CAIO BLINDER
Jornalista e um dos apresentadores do programa Manhattan Connection da GloboNews
A ESCADA ROLANTE
DA SEARS
A ESCADA ROLANTE
DA SEARS
CAIO BLINDER
Jornalista e um dos
apresentadores do programa
Manhattan Connection
da GloboNews
CAIO BLINDER
Jornalista e um dos
apresentadores do programa
Manhattan Connection
da GloboNews
“Como diz Samuelson, qualquer negócio, por mais inovador ou poderoso que seja, não possui o selo de imortalidade”
O investidor bilionário Edward Lampert ainda visualiza um horizonte de oportunidades para a Sears. Em outubro passado, ele levou o lendário grupo varejista à recuperação judicial quando era o CEO. Renunciou à posição e ainda como chairman venceu a parada no leilão da recuperação judicial em janeiro, mantendo a lenda viva com 400 lojas em funcionamento. Eu mantenho meu ceticismo no atacado sobre o sucesso da empreitada.
Eu uso expressões como grupo lendário ou lenda viva com uma prestação de caridade. Sendo mais cruel, eu deveria recorrer a expressões como grupo jurássico ou “peça do museu do varejo global”. Lampert é supostamente do ramo, embora tenha a reputação de coveiro da Sears. Na verdade, são tantos. Eu sou um mero consumidor. Não olho para a frente quando o assunto é Sears, mas para trás, com nostalgia de pronta entrega. A propósito, no começo do século 20, a Sears dava conta de 100 mil entregas por dia, encomendadas por seu catálogo.
São 126 anos de Sears, um pouquinho mais do dobro da idade deste jornalista ainda não jurássico. Eu cresci com a Sears, ainda moleque circulando pelas lojas paulistanas no Paraíso e na Água Branca. A Sears estreou escada rolante em loja brasileira. Ela foi ladeira abaixo em câmera lenta.
Vou dever aqui uma crônica de uma recuperação judicial anunciada. Em contraste a seu catálogo, que chegou a ter 770 páginas, bem resumido é o seguinte: a Sears um dia foi o Walmart, um dia ela foi a Amazon, com um bordão visionário: satisfação garantida ou o seu dinheiro de volta. No pico, a empresa tinha o edifício mais alto do mundo, a Sears Tower, em Chicago.
Não vou bancar o vidente e anunciar que a Amazon um dia terá o destino da Sears. Por aí, é falência analítica, determinismo histórico preguiçoso. Não custa muito, porém, dar uma viajada pelo passado. E, assim, temos algumas lições sobre a história fascinante, inovadora, mas também implacável do capitalismo, algo distinto do determinismo histórico de Marx.
Vou mencionar gente mais modesta do que Marx. Um dos meus jornalistas econômicos favoritos nos EUA, Robert Samuelson. Em janeiro, ele escreveu um texto no jornal The Washington Post sobre a ascensão e queda de dois ícones do capitalismo americano: a Sears e a General Electric. Foram grandes empreendimentos, símbolos de inovação e imaginação.
Podemos esmiuçar os problemas de gestão. Deixo isso para consultor de varejo ou indústria. Como diz Samuelson, qualquer negócio, por mais inovador ou poderoso que seja, não possui o selo de imortalidade.
O essencial é que existe um ciclo de vida a quase todas as empresas, em particular conglomerados bem-sucedidos. Seus mercados amadurecem; crescimento e lucros enfraquecem. E não podemos esquecer o fortalecimento da competição.
Incrível, mas, no passado, a GE foi removida do Índice Dow Jones, a última das 12 companhias originais. Dinamismo tem um alto preço, mas também fantásticos benefícios.
O sobe e desce da escada rolante não é apenas naquela loja Sears da Água Branca em São Paulo.
“Como diz Samuelson, qualquer negócio, por mais inovador ou poderoso que seja, não possui o selo de imortalidade”