TODOS COMEÇAMOS O ANO DE 2020 com planos – alguns mirabolantes; outros, nem tanto –, mas imaginamos que chegaríamos ao fim desse período com mais conquistas, experiências, amizades e realizações do que quando ele começou, lá em 1º de janeiro. Mas não foi o que aconteceu.
Desde o início do primeiro mês, já tivemos um prenúncio de que nem tudo poderia ser realizado, devido ao surgimento de um novo vírus, então desconhecido. De fato, fomos obrigados a filtrar nossos sonhos, ambições, desejos e iniciativas, limitando-os aos nossos lares, aos nossos bairros, às nossas cidades ou, quando muito, aos nossos países. A bem da verdade, 2020 foi um ano de escolhas, ponderações, cálculos de prós e contras. Algumas tomadas de decisão foram adiadas; outras, adiantadas. Em muitos aspectos, passamos quase 12 meses com o freio de mão puxado. E agora? Para onde estamos indo e até onde já chegamos?
Queremos nossa vida de volta. Todos aqueles que conheço estão sentindo falta de pelo menos uma diversão – desde um passeio no parque até um concerto em uma casa de shows. A escolha do que fazer (e como fazer) é do consumidor. Mas foi justamente disso que abrimos mão: nossas escolhas. É verdade que aprendemos muito nesse período – inclusive sobre o valor das coisas simples, como o ato de respirar fundo ao caminhar na rua. De repente, nossos horizontes ficaram limitados a algumas telas. Nossos diálogos estão restritos a fones de ouvido e microfones, os sorrisos estão pixelados. Os olhos nos olhos ainda são possíveis, mas apenas quando estamos de máscara.
A Consumidor Moderno sempre abordou a transformação das empresas e do consumidor, mas o grau de imersão digital que ocorreu em 2020 foi inimaginável. Por um lado, isso é bom: houve muitos avanços que demorariam anos, mas aceleraram exponencialmente. Por outro lado, ao mesmo tempo em que sentimos falta da vida real, estamos cansados dos excessos digitais e das repetições impostas pelos algoritmos. Mais do que nunca, estamos reféns deles. Dessa forma, é quase impossível olhar para a realidade sem filtros: quem conta as histórias do mundo todo está sendo pautado pelas big techs.
Nós, cabeças pensantes, precisamos estar atentos ao seguinte fato: o digital é bom quando está dentro de um contexto de experiências. Inclusive, foi a partir dele que pequenos empreendedores, utilizando ferramentas que já faziam parte de seus cotidianos – como o WhatsApp –, deram continuidade aos próprios negócios, criando canais diretos com o consumidor. E o fizeram por livre e espontânea criatividade e liberdade.
É justamente isso que buscamos em uma sociedade capitalista livre, saudável e competitiva: oportunidades para todos. Nas palavras de Ayn Rand, uma das maiores pensadoras de todos os tempos, “a menor minoria na Terra é o indivíduo”. O pensamento de cada um de nós, censurado pelas bolhas das redes sociais, não tem espaço para ser expressado. Os metacapitalistas crescem e enriquecem muitas vezes às custas do bem-estar do cidadão – prova disso são os conteúdos liberados pelo Facebook sem nenhuma preocupação sobre a influência gerada ou o prejuízo à saúde mental.
Nesse processo, quem olha para o pequeno empreendedor, o pequeno negócio que, na pandemia, se superou e se transformou para continuar servindo o cliente com produtos e serviços de qualidade, sob altos custos? As big techs cresceram mais do que nunca, mas não geram, de fato, algum valor para o indivíduo.
A censura de pensamento e a incapacidade de diálogo com quem pensa diferente gera uma sociedade menos criativa, aberta a ideias, medrosa e incapaz de criticar e ser criticada de forma construtiva. O que se pode aprender com a visão de mundo daquele que nasceu e cresceu em um contexto diferente? Independentemente da etnia, religião ou cor de pele, somos únicos em nossos aprendizados e experiências de vida. Ainda que possamos nos reunir em torno de semelhantes – seja em uma torcida de futebol, seja em um centro religioso –, a verdade é que cada ser humano é um mundo capaz de ensinar ou aprender com qualquer outro.
Assim, reforço o valor do indivíduo, a minoria apontada por Ayn Rand. É ele quem mais sofre por não ter suas particularidades respeitadas, suas opiniões, suas necessidades ou, até mesmo, por não ter onde ou como expressar seu potencial criativo, muitas vezes genial. Precisamos de mais reflexões e menos imposições, o que se dá pelo debate de ideias. Por isso, falar em respeito é essencial. Terminamos 2020 celebrando as boas práticas das empresas que foram escolhidas pelo consumidor como exemplos de respeito.
Para o próximo ano, ficam os aprendizados conquistados. Sentimos na pele a importância de mudar e ser flexível, se adaptar aos cenários, ser resiliente e termos enfrentado com bravura e galhardia o cenário mais adverso da vida de todos nós. Ficou claro que precisamos praticar a adversidade, o confronto de ideias e opiniões, o direito de discordar para, assim, pelo choque dessas ideias, cada um conseguir trilhar um caminho transformador com muita humildade e respeito ao próximo e a certeza de que a única maneira de melhorar o coletivo é com o somatório dos esforços individuais. Talvez a maior lição deste 2020 seja a valorização de cada pequeno momento de convivência – seja um simples passeio, seja uma visita a um amigo, a um familiar. Pequenos momentos que serão mais valorizados, eternizados.
Que cada um possa realmente dar o devido valor às pequenas coisas para fazer um grande ano.
Feliz 2021 e saúde para todos.
