MARCELO GOMES SODRÉ
Professor da PUC/SP
AS SILENCIOSAS
FAKE GREENS
AS SILENCIOSAS
FAKE GREENS
MARCELO GOMES SODRÉ
Professor da PUC/SP
MARCELO GOMES SODRÉ
Professor da PUC/SP
“Nestes 30 anos foram aprovados dispositivos legais para impedir o que se chama de greenwashing: produtos que têm apenas a aparência de serem amigáveis com o meio ambiente”
Muito se discute no Brasil o tema do desmatamento. Discussão mais do que merecida. A cada mês, o Brasil bate recordes em abater suas florestas. Logo seremos os campeões mundiais. E, pelo andar da motosserra, alguns se sentem orgulhosos. Mas existe um outro campeonato mundial no qual silenciosamente vamos ocupando possivelmente o primeiro lugar: as fake greens. O que é isso?
Vamos aos fatos. Que tal um produto alardear no seu rótulo que se destaca dos outros por não conter clorofluorcarbono (CFC), quando desde 1999 este componente químico é proibido por conta do buraco na camada de ozônio? Que tal uma fralda descartável ter no seu rótulo a informação de que é reciclável quando não existe um sistema de recolhimento de fraldas, sempre carimbadas? Que tal uma palha de aço que se diz: ECO? Que tal uma empresa que afirma não usar animais para testar seus produtos, mas não consegue comprovar tal afirmação? E os exemplos poderiam continuar.
Entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019, o Idec coletou nos produtos ofertados nos grandes supermercados informações ambientais a respeito dos impactos no meio ambiente. Foram localizados 509 produtos – higiene, limpeza e utilidades domésticas – com informações socioambientais. E a constatação foi digna de uma medalha de ouro: 243 apresentavam algum tipo de desconformidade, ou seja, 48% dos produtos. Nos produtos de utilidade doméstica somos imbatíveis: dos 79 produtos analisados, 59 apresentaram problemas. Transformados em números mais chocantes: de cada 4 produtos estudados, 3 estão irregulares, só 75%. E estamos tratando somente das informações na rotulagem. Imaginemos se a pesquisa analisasse o conteúdo desses produtos!
Já se vão quase 30 anos que se discute este tema e muito pouco foi feito. Nunca esqueci de ter visto, no início dos anos 1990, a resposta de uma empresa a respeito de ter no rótulo a seguinte informação: este produto é amigo do meio ambiente. A empresa orgulhosamente afirmava que doava dinheiro para a proteção dos ursos pandas na China. Não importava se esse produto consumia energia e água de forma descabida na sua produção e, muito menos, se havia algum sistema de reciclagem no seu descarte. Produto friendly. Pode parecer piada, mas foi localizado na pesquisa um frasco com a seguinte informação: carinho com o meio ambiente. Que lindo!
E nestes 30 anos foram aprovados dispositivos legais para impedir o que se chama de greenwashing: produtos que têm apenas a aparência de serem amigáveis com o meio ambiente. Podemos lembrar o Código de Defesa do Consumidor que proíbe as propagandas enganosas e o Código de Autorregulação do CONAR, que acertadamente afirma que as informações ambientais devem atender aos princípios de veracidade, exatidão, pertinência e relevância.
O Brasil vive aquele velho problema que bem conhecemos: fazemos as leis, mas não nos preocupamos em cumpri-las. E vamos lá, de motosserra em motosserra e de fake greens em fake greens, destruindo nosso planeta. No caso das florestas, com bastante barulho. No caso do greenwashing, silenciosamente.
“Nestes 30 anos foram aprovados dispositivos legais para impedir o que se chama de greenwashing: produtos que têm apenas a aparência de serem amigáveis com o meio ambiente”