CORRIDA PELO
ENGAJAMENTO
DIANTE DO CAOS DAS GRANDES CIDADES E DO AVANÇO DE NOVOS MODAIS, LEVANTAMENTO INÉDITO TRAZ A REPUTAÇÃO DAS EMPRESAS DE MOBILIDADE A PARTIR DE NOTÍCIAS PUBLICADAS PELA IMPRENSA E DE COMENTÁRIOS NAS REDES SOCIAIS
POR DIMAS RIBEIRO
ocomover-se nas grandes cidades é um desafio e tanto. Além de falhas no planejamento urbano, que fazem com que as pessoas se desloquem por quilômetros de casa ao trabalho, a população tem de lidar com outros problemas, como a ineficiência do transporte público e o trânsito caótico. São Paulo, por exemplo, ocupa o quinto lugar no ranking INRIX 2018 Global Traffic Scorecard, que traz as cidades com os maiores índices de congestionamento do mundo: são nada menos do que 154 horas gastas por ano no trânsito. Para otimizar o tempo e reduzir o estresse, muitas pessoas têm buscado alternativas. Segundo a pesquisa “Origem Destino”, do Metrô de São Paulo, entre 2007 e 2017 as viagens de transporte privado cresceram 414%, saltando de 90 mil viagens por dia para 468 mil na cidade. Destas, 79% são feitas por aplicativos como Uber, 99 e Cabify. Outros modais que vêm caindo no gosto de quem percorre distâncias menores são as bicicletas e as patinetes, ainda assim sujeitas a questões regulatórias perante governos.
Para saber o que as pessoas andam comentando a respeito dessas empresas, o Centro de Inteligência Padrão (CIP) em parceria com a Stilingue – startup que tem como negócio o desenvolvimento de métricas de reputação no ambiente on-line – mostram quais são as marcas mais bem faladas do setor. Chamada de Top Of Mouth (TOM), a pesquisa analisou dados de janeiro a março deste ano. Ao todo, mais de 800 mil comentários foram coletados pela ferramenta. “Com a Internet, o consumidor tomou o poder. Uma simples manifestação sobre uma marca pode mudar o rumo de um negócio”, diz Rodrigo Helcer, CEO da Stilingue.
Segundo ele, quando o assunto é percepção, o desafio de enxergar o consumidor além dos números é ainda maior. “Dados com percepções de consumidores não nos faltam. Mas observamos uma barreira sobre-humana para interpretá-los”, afirma.
Especialista do CIP, Bruna Ueda reforça que a tecnologia mudou o conceito de mobilidade dentro das grandes cidades. “Ela trouxe novas opções para as pessoas se locomoverem, como transportes por aplicativos, caronas sob demanda, aluguel de bikes e patinetes elétricas, e até transporte por helicópteros”, diz. A seguir, você confere, com exclusividade, os detalhes desse levantamento que traz as cinco empresas com a melhor reputação em mobilidade. São elas: Bike Sampa, Cabify, 99, Yellow/Grin e Uber.
MOBILIDADE: NÚMEROS DA PROBLEMÁTICA
Dois estudos, que analisam a mobilidade urbana nas cidades, mostram que, embora levem o menor tempo para se deslocar, os moradores do centro representam apenas 4% da população do município de SP.
AS CIDADES MAIS CONGESTIONADAS DO MUNDO
A Cidade de São Paulo é a quinta mais congestionada do mundo. As pessoas gastam 154 horas no ano, apenas com o deslocamento.
#1
Moscou
RÚSSIA
#2
Estambul
TURQUIA
#3
Bogotá
COLÔMBIA
#4
Cidade do México
MÉXICO
#5
São Paulo
BRASIL
#6
Londres
REINO UNIDO
#7
Rio de Janeiro
BRASIL
#8
Boston
EUA
FONTE: INRIX, empresa líder em serviços de carros conectados, com o estudo Traffic Scorecard Infographic
QUEM GASTA MENOS TEMPO EM SP?
Moradores do Centro são os que gastam menos tempo em todos os deslocamentos feitos por São Paulo: 1h58
FONTE: IBOPE (Nossa São Paulo – Viver em São Paulo: Mobilidade Urbana na Cidade)
METODOLOGIA
Confira, a seguir, a metodologia criada pela Stilingue:
ETAPA 1: COLETA
A ferramenta faz uma varredura nas informações publicadas na imprensa e nas redes sociais. A base conta com mais de 50 milhões de publicações por dia e cerca de 1 milhão de perfis em redes sociais
ETAPA 2: CATEGORIZAÇÃO
Após a coleta, a inteligência artificial desenvolvida pela empresa categoriza e compara os resultados
ETAPA 3: DASHBOARDS
As informações então são aplicadas em dashboards digitais, analisadas e disponibilizadas para uso. Com isso, é possível, além de analisar a reputação das marcas, medir a qualidade dos comentários feitos no ambiente on-line
A MOBILIDADE NO CORAÇÃO DO CONSUMIDOR
Confira, abaixo, como os consumidores têm percebido a experiência com os serviços de mobilidade urbana e como eles expressam seus sentimentos nas redes sociais.
A análise considera dados de janeiro a março de 2019.
ANÁLISE: GERAL
Dois estudos, que analisam a mobilidade urbana nas cidades, mostram que, embora levem o menor tempo para se deslocar, os moradores do centro representam apenas 4% da população do município de SP.
Rosine Kadamani: mais de 2 mil viagens pelo aplicativo da Cabify
A MAIS “BEM FALADA”: BIKE SAMPA
@EbinhoB_ mano, aluga uma bike do Itaú pelo app e seja feliz… (Twitter)
Hoje perdi meu medo de sair sozinha de casa, depois do assalto que eu sofri em agosto de 2018. Depois de dez anos sem subir numa bicicleta, andei com exímio equilíbrio! Obrigada pelos mimos @itau bike. (Twitter)
Fui parar na Avenida Paulista, vi aquela bike do Itaú e fiquei encantada! (Twitter)
CABIFY: RELATOS DE EXCELÊNCIA
Cabify disparado o melhor serviço de App!! Excelência!! (Facebook)
Só utilizo o Cabify, pois é um aplicativo que avalia os antecedentes dos motoristas e me traz um pouco mais de segurança. (Facebook)
Para mim, o que traria mais segurança seria o sistema da Cabify, que mostra todo o perfil do passageiro que está solicitando a viagem. (YouTube)
99: UM MEIO A MEIO NO CORAÇÃO
99Pop eu te amo. <3 (Twitter)
99Pop é bem seguro e pensa em nós motoristas. (YouTube)
@voude99 Só uso vcs!! Muito bom! Carro particular 99Pop! (Twitter)
YELLOW/GRIN: PEDALANDO E “PATINETANDO” PELA CIDADE
Se tem uma coisa que eu recomendo é andar de patinete elétrica da Yellow. (Twitter)
É incrível! Trabalhar na Paulista e voltar para casa com a bicicleta da Yellow ou a patinete. (Twitter)
Gente! Patinete da Yellow é moladíssimo. Recomendo! Diversão a mil! (Twitter)
UBER: TODO MUNDO JÁ PEDIU UM
Sempre que usei Uber eles chegaram rápido e foram muito respeitosos! (Facebook)
Uber, o melhor aplicativo de transporte urbano do mundo! Confira! (Twitter)
Peguei um Uber MUITO legal hoje pra voltar pra casa. Até gorjeta dei pelo app! Pessoa extremamente simpática e gentil. (Twitter)
A VEZ DAS “MAGRELAS”
Entre as empresas que, segundo o TOM, mais tiveram menções positivas nas redes, a Bike Sampa se sobressai. Patrocinado pelo Itaú, o sistema de bike sharing foi um dos primeiros a despontar, em 2012. Hoje, são mais de 2.600 bicicletas em 260 estações espalhadas pela cidade de São Paulo. Para contrastar com as laranjinhas, os usuários também têm à disposição as bicicletas e as patinetes elétricas da Yellow, que se juntou à Grin este ano para formar a Grow. Hoje, a companhia é considerada a terceira maior em micromobilidade do mundo, com a marca de 10 milhões de corridas desde o início das operações da Grin e Yellow, em agosto de 2018.
Enquanto a primeira fica alocada em estações fixas, as amarelinhas se espalham pelas ruas de São Paulo e de outras 13 cidades, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife. Em regiões movimentadas como a Avenida Faria Lima, na Zona Sul de São Paulo, um contador digital em tempo real chega a registrar mais de 20.000 ciclistas na ciclovia por dia. “A grande inovação hoje é construir alternativas que se adequem a cada perfil de usuário, facilitando e ampliando a utilização do nosso serviço. Além de trazer opções que se adequem e se integrem aos meios de transporte público tradicionais, os usuários podem retirar uma bike utilizando o nosso aplicativo, o cartão Bike Itaú, o bilhete único ou, ainda, diretamente nas novas estações com tela de compra”, explica Loren Monteiro, CPO da Bike Sampa/TemBici.
Mas, com a popularização do serviço, vieram também os problemas, como o mau uso e a preocupação com a segurança do usuário. Não é incomum, por exemplo, ver bicicletas da Yellow atrapalhando o fluxo, quebradas e até mesmo jogadas no Rio Pinheiros. Para evitar o colapso, a Bike Sampa melhorou seus serviços de instrução nas estações de retirada e lançou um novo aplicativo. Já a Yellow reduziu sua área de cobertura para evitar roubos e perdas de bikes.
Vale lembrar que, em maio deste ano, um decreto passou a obrigar o uso do capacete, além de proibir a circulação de bicicletas e patinetes nas calçadas. Em agosto, a prefeitura de São Paulo lançou uma nova regulamentação que desobriga o uso do capacete, mas exige que as patinetes sejam mantidas em bolsões de estacionamento e não em qualquer local público. Ela também estipula que as patinetes não circulem em calçadas, acostamentos e outras áreas destinadas a pedestres e carros, e limita a velocidade máxima em 15 km/h nas primeiras dez viagens, e 20 km/h nas demais. “A Grow recomenda o uso de capacete, apesar de a Justiça ter desobrigado a utilização do equipamento”, declara Milton Achel, diretor de Relações Governamentais da Grow no Brasil. Ele afirma, ainda, que a empesa realiza campanhas regularmente com esse objetivo e distribui capacetes para os usuários nas cidades em que opera no Brasil. “Até agora, foram cerca de 6 mil deles oferecidos gratuitamente”. E aproveita para fazer uma crítica ao estado de conservação de ruas e ciclovias. “No entanto, mais importante para garantir a segurança dos usuários é oferecer uma rede cicloviária com capilaridade e qualidade, além de ruas com velocidades menores e asfalto adequado”.
DE CARONA NA MOBILIDADE
Assim como as empresas de bikes e patinetes, Uber, 99 e Cabify também enfrentam desafios. Logo no início, essas empresas tiveram de lidar com a resistência de taxistas e a exigência de regulações. Depois, vieram as reclamações tanto de motoristas como usuários, seja por conta de trajeto, seja por conta de limpeza ou, em casos mais graves, assédio e até abuso sexual, como mostra a pesquisa. Para lidar com essas adversidades, as empresas vêm adotando cada vez mais medidas de segurança. “Temos botão de SOS, a possibilidade de o motorista aceitar ou não corridas em dinheiro, checagem de antecedentes criminais e exame toxicológico em motoristas parceiros e levantamento de um breve histórico do passageiro, para que o motorista veja quem ele está levando”, conta Vanessa Souza, gerente de Marketing da Cabify. Uma má conduta também pode fazer com que o motorista seja banido do aplicativo. “Os casos mais complexos são automaticamente encaminhados para o nosso Centro de Excelência, baseado em São Paulo, onde motoristas e usuários de todo o País são atendidos. Hoje, ele emprega diretamente cerca de 600 pessoas”, diz Crislaine Costa, gerente de Comunicação da Uber. Para que os motoristas também se sintam seguros, a empresa permite que as viagens sejam compartilhadas com a família e as monitora por meio de GPS. Já a 99, da chinesa Didi Chuxing, lançou um rastreador de comentários que identifica denúncias na plataforma.
EXPERIÊNCIA À PROVA
Além de medidas para tornar as viagens mais seguras, essas empresas vêm olhando com afinco para a experiência do passageiro. A 99, por exemplo, oferece desde a categoria 99Pop, com motoristas particulares em diversas cidades, e o 99Táxi, com a comodidade do táxi a valores até 30% mais baixos, ao 99Top, um serviço premium com táxis de luxo. No Brasil, a empresa já conecta 18 milhões de passageiros a 600 mil motoristas. “Nossos times trabalham para aprimorar nossa inteligência artificial, features e serviços do aplicativo, com o objetivo de antecipar tendências e necessidades de nossos usuários”, diz Caio Poli, diretor da Unidade de Atendimento ao Cliente da 99.
Na ótica do motorista, o relacionamento com a marca também importa. Paulo Bolognani, de 23 anos, encontrou a nossa equipe no “The Cabify Home”, um espaço de lazer, descanso e atendimento da empresa para dar suporte aos colaboradores. “Nós, motoristas, temos acesso a dados cruciais, como destino, perfil do passageiro e outros dados que possibilitam uma melhor experiência. O sistema de bônus também é um grande motivador, além da central de segurança que atende 24X7”, declara o motorista.
Usuária assídua dos apps de transporte, a empresária Rosine Kadamani, de 35 anos, mora no centro de São Paulo e já foi premiada pela Cabify por ser uma usuária frequente, com mais de 2 mil corridas. “Não espero garantias de segurança, mas espero iniciativas. Não tenho carro desde 2016 e, na minha opinião, o que mais faz valer a minha escolha é o processo seletivo pelo qual os motoristas passam”, alega Rosine. A experiência fluida, diz ela, também conta: “Nunca precisei recorrer ao telefone para resolver um problema”.
Ainda em fase de adaptação, os serviços de economia compartilhada vêm tornando mais amigável a relação das pessoas com grandes cidades. Hoje, basta sacar o celular do bolso para escolher como, quando e onde ir de um ponto a outro de acordo com a necessidade, algo impossível há dez anos. Segundo um estudo recente, 10% do orçamento dos brasileiros já é consumido com aplicativos como Uber, 99 e Cabify. Sinal de que o fenômeno da uberização veio para ficar e transformar não só o setor de mobilidade como outros tantos que já são obrigados a lidar com consumodores muito mais afoitos e, sim, “bem acostumados”.