CAIO BLINDER
Jornalista e um dos apresentadores do programa Manhattan Connection da GloboNews
FOGO
CRUZADO
FOGO
CRUZADO
CAIO BLINDER
Jornalista e um dos
apresentadores do programa
Manhattan Connection
da GloboNews
CAIO BLINDER
Jornalista e um dos
apresentadores do programa
Manhattan Connection
da GloboNews
“181 CEOs assinaram documento ressaltando que maximização dos lucros e primazia dos acionistas não devem ser os únicos valores a guiar as empresas”
Exceto um policial (e eventualmente um bandido), nunca esperei ver alguém portar armas de forma ostensiva na filial da farmácia CVS, a uma quadra de casa. No entanto, o país é grande e a cultura das armas nos EUA, amplamente disseminada. Tem gente que faz questão de sair por aí posando de xerife. Em agosto, a CVS pediu que seus clientes não portem armas abertamente em suas filiais.
Vários conglomerados americanos estão tomando este tipo de atitude. O Walmart, maior cadeia varejista do mundo, foi além e anunciou que não mais venderá munição usada para revólveres e rifles semiautomáticos. É uma tomada de posição que, no fim das contas, é boa para os negócios. A maioria dos americanos se sente mais simpática a uma empresa quando o seu CEO levanta a cabeça e se expõe ao fogo cruzado para defender medidas mais rigorosas para a compra de armas.
CEOs relutam em se posicionar sobre assuntos polarizantes, mas a pressão é cada vez maior de acionistas, funcionários e consumidores para eles expressarem seus valores. No caso específico das armas, CEOs assumem o papel de liderança no debate público diante da incapacidade de o establishment político atuar devido à sua própria polarização.
Agosto, aliás, foi um mês histórico para a tomada de posição do mundo corporativo americano. A Business Roundtable (a távola redonda das grandes empresas) deu um passo simbólico, mas significativo: 181 CEOs assinaram documento ressaltando que maximização dos lucros e primazia dos acionistas não devem ser os únicos valores a guiar as empresas.
O papel das empresas, de acordo com quase 200 CEOs desta távola redonda, liderados pelo novo Rei Arthur, Jamie Dimon, do JP Morgan, é mais amplo. Deve beneficiar funcionários, clientes e a comunidade em geral.
O guru ortodoxo Milton Friedman, Nobel da Economia, está se revirando no túmulo. No seu petardo lendário, Friedman disse que a responsabilidade social de uma empresa é gerar lucros. No entanto, as empresas hoje reagem a pressões justamente de funcionários, clientes e da sociedade.
O gesto da távola redonda corporativa tem também o propósito, no contexto americano, de mitigar a imagem pública negativa do setor em meio à indignação populista com desigualdade social e o bônus exorbitante dos CEOs (mesmo quando a economia está em baixa).
Para esmiuçar alguns pontos: os funcionários millennials de uma empresa exigem dos chefes algo mais do que o lucro; é difícil recrutar talento, em particular se o lucro é o único objetivo, e cada vez mais consumidores tomam decisões de compra com base nos propósitos sociais da companhia.
Não custa lembrar que propósitos sociais de uma empresa se esfarelam com lucros baixos ou prejuízos, sem falar do constante e neurótico desafio de inovação, algo que pode ser doloroso e traumático para os funcionários e a floresta social.
O documento da Business Roundtable é grandioso e vago. E obviamente para o Brasil, tão aflito com seus desafios de curtíssimo prazo, propósitos sociais em longo prazo não parecem redondos. Mas, pensar adiante é preciso.
“181 CEOs assinaram documento ressaltando que maximização dos lucros e primazia dos acionistas não devem ser os únicos valores a guiar as empresas”