CAIO BLINDER
Jornalista e um dos apresentadores do programa Manhattan Connection da GloboNews
FOGO
CRUZADO
FOGO
CRUZADO
FOGO
CRUZADO
CAIO BLINDER
Jornalista e um dos
apresentadores do programa
Manhattan Connection
da GloboNews
CAIO BLINDER
Jornalista e um dos
apresentadores do programa
Manhattan Connection
da GloboNews
“Consumidores e funcionários esperam e exigem que as companhias tomem posições (e não se esquivem) no fogo cruzado relativo aos tópicos sociais, políticos
e culturais”
O nome da cadeia de lojas de artigos esportivos é horroroso: Dick’s. Quem conhece bem inglês, fará no ato associações com uma gíria fálica. No entanto, a reputação da Dick’s cresceu (sorry, pelo trocadilho infame) quando decidiu estabelecer uma nova política: venda de armas apenas para maiores de 21 anos. Eu não compro fuzil na Dick’s, apenas raquetes e bolas de squash. Mas fiquei contente com a decisão, que é relativamente corajosa para uma empresa, adotada depois do massacre de estudantes por um colega atirador em Parkland, na Flórida, em fevereiro.
Consumidores e funcionários esperam e exigem que as companhias tomem posições (e não se esquivem) no fogo cruzado relativo aos tópicos sociais, políticos e culturais mais quentes nos EUA. Trata-se de uma estratégia para preservar e valorizar a marca. Assim, uma empresa de grosso calibre, o Walmart – maior varejista do mundo –, tem muito peso quando assume uma posição.
O Walmart é um dos maiores vendedores de armas nos EUA e o direito à compra e ao porte de armas é uma religião, tanto entre os defensores como entre os adversários. Os executivos da empresa seguiram a pista da Dick’s e também decidiram que venda de armas apenas para maiores de 21 anos.
O Walmart, por seu peso, é cauteloso. Ele se posiciona nesses temas quentes, como armas, imigração e direitos de minorias (particularmente gays), na esteira do posicionamento de outras empresas e da classe política. Costumava ficar escondido e não se meter no fogo cruzado de temas controvertidos. Mas as empresas têm cada vez menos bala para se esquivar. A questão deixou de ser se envolver ou não e passou a ser quando, onde e como.
Em junho, algumas das mais importantes companhias aéreas, United e American, não puderam ficar estacionadas na pista e comunicaram ao governo Trump que não iriam mais transportar crianças separadas dos pais quando famílias de imigrantes ilegais são detidas na fronteira mexicana.
O caso do Walmart sempre é ilustrativo. O quartel-general da empresa fica no Estado de Arkansas, um dos mais conservadores dos EUA e mesmo assim seu CEO, Doug McMillon, tem adotado posições liberais. Trata-se de uma revolução para uma companhia associada com brutal eficiência para oferecer produtos baratos.
No núcleo duro de sua base de consumidores fiéis, o Walmart tem americanos bastante conservadores e que ficaram indignados com a decisão de criar algumas restrições na venda de armas. Mas era preciso acertar na mira quando a empresa resolveu também alvejar consumidores mais afluentes e sofisticados em áreas metropolitanas.
Em uma apresentação a jornalistas, o diretor de marketing do Walmart, Tony Rogers, citou dados, revelando que 72% dos clientes da empresa querem que ela tome posição em importantes questões sociais e 85% esperam que ela deixe claro quais são os seus valores. E a postura mais engajada valoriza a marca. Na pesquisa de reputação da Harris, a nota do Walmart melhorou (de 0 a 100 está em 68,5), mas ainda está distante da nota da Amazon (83,2). Melhor calibrar ainda mais as suas armas.
“Consumidores e funcionários esperam e exigem que as companhias tomem posições (e não se esquivem) no fogo cruzado relativo aos tópicos sociais, políticos
e culturais”