GERAÇÕES EM TRÂNSITO
COM COMPORTAMENTOS, VALORES E ESTILOS ORA SIMILARES, ORA COMPLETAMENTE DIFERENTES, AS NOVAS E ANTIGAS GERAÇÕES SE TORNAM UM DESAFIO PARA AS MARCAS
POR VINICIUS GONÇALVES
O
século 20 é considerado por estudiosos das mais variadas áreas do conhecimento humano como o mais transformador da história. À sombra de catástrofes e descobertas científicas valiosas, este período engendrou novos perfis de comportamento no cenário moderno.
Visto como “A era dos extremos” pelo historiador Eric Hobsbawm, este foi o século em que o homem se reinventou com os avanços da ciência e da tecnologia. A velocidade das transformações entre uma década e outra foi tão drástica que novos perfis de comportamento nasceram. E, com eles, vieram gerações que guardam peculiaridades específicas de seu tempo. A competição na quebra de paradigmas de uma nova geração sobre a anterior se tornou algo natural no curso dos acontecimentos.
Nas relações de consumo, o desafio que se coloca é compreender que essas transformações ocorrem de forma cada vez mais rápida e difusa, acompanhando o fluxo de mudanças econômicas, sociais e, sobretudo, tecnológicas. Seguir os desejos e as mudanças desses consumidores tem-se tornado cada vez mais complexo para as marcas. “Apesar de os Baby Boomers, da Geração X e dos Millennials (Geração Y) estarem envelhecendo, são eles que representam ainda a maior força de trabalho (em termos de volume). Uma geração sempre traz características contraditórias à geração anterior”, explica Julia Curan, consultora da WGSN.
A executiva explica que as gerações se depararam com cenários e expectativas muito diferentes no decorrer dos anos. “Os Baby Boomers viveram o ‘desenvolvimentismo’ no Brasil, da promessa de ‘50 anos em 5. Eles viveram um cenário no qual se sentiam otimistas, confiantes. Já a Geração X viveu um cenário instável (da Guerra Fria à ditadura no Brasil) e, por isso, é um grupo que busca linearidade (tanto na carreira quanto nas relações pessoais). Os Millennials vêm de um contexto de promessas econômicas, do Plano Real – são mais flexíveis em relação a tudo, menos lineares e mais adaptáveis (geração freelancer)”, complementa.
“Uma geração sempre traz características contraditórias à geração anterior”
Julia Curan, consultora da WGSNr
A REVOLUÇÃO DA LONGEVIDADE
A expectativa de vida aumentou cerca de 30 anos desde 1950. Esse salto beneficiou, principalmente, a geração Baby Boomers, que corresponde àqueles que nasceram entre 1945 e meados dos anos 60. Moldada no período pós-Segunda Guerra Mundial, essa geração possui características profundamente idealistas, combativas e com instinto coletivo. Concentra as principais tomadas de decisão do planeta atualmente, seja comandando uma empresa, seja comandando um Estado ou um País.
Na contramão dos Millennials, os Baby Boomers se destacaram como a geração mais rica da história e devem permanecer neste posto até meados de 2030. “Estamos falando de uma geração que reescreveu a riqueza no mundo”, diz Roberto Meir, CEO do Grupo Padrão e um dos maiores especialistas do mundo em relações de consumo. Segundo relatório de transferência de riqueza do Banco Real do Canadá, quando essa geração passar seus ativos aos membros mais jovens da família, analistas especulam que eles deixem US$ 4 trilhões (R$ 15 trilhões) em riqueza para a geração seguinte em lugares como Reino Unido e América do Norte. Vale destacar que mesmo diante de um consumidor com alto poder aquisitivo, o movimento varejista seguiu, de maneira global, a tendência de se comunicar principalmente com o público mais jovem.
De acordo com dados de pesquisas apresentados no relatório “Future of Ageing/ILC-Brazil”, o Brasil tem cerca de 30 milhões de idosos. Até 2050, esse número deve mais que dobrar, atingindo a marca de 67 milhões. Nesse mesmo período, a expectativa é que esse grupo etário dos 60+ corresponda a 30% da população de 64 países. O empoderamento dessa geração fez nascer o termo Revolução da Longevidade, que corresponde a esse grupo que está vivendo mais e melhor. “A riqueza do Brasil está nas mãos de pessoas com mais de 55 anos. Temos R$ 1,5 trilhão, que é a riqueza acumulada entre esse público. Como a crise continua, é fundamental que as empresas abram os olhos”, explica Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil e copresidente da Aliança Global dos Centros Internacionais de Longevidade.
Kalache é médico epidemiologista e um dos profissionais mais renomados do País quando o assunto é envelhecimento. O especialista destaca que as empresas ainda precisam se atentar para gargalos de consumo existentes na comunicação com consumidores 60+. “Existe um vácuo nesse sentido, mas algumas empresas estão acordando para isso, percebendo que o mercado do idoso não é só remédio e coisas do tipo. Tem viagem, tecnologia, pois ele está muito mais antenado à informação”, diz.
Para se ter uma ideia de como esse público está sedento de novos horizontes, os universitários brasileiros com mais de 60 anos cresceram 53% nos últimos seis anos. No ano passado, 9.600 pessoas desse grupo etário prestaram o Exame Nacional do Ensino Médio. O fato é que, hoje, as pessoas envelhecem em um contexto diferente em relação às gerações anteriores. “Precisamos acompanhar as tendências, porque vamos envelhecer diferentemente dos nossos avós e pais. Toda essa dinâmica vai mudar. Vamos ter que observar todas essas movimentações de mercado, e as empresas que forem mais atentas devem se sair melhor nessa nova demografia”, diz Kalache.
UMA QUESTÃO DE PERCEPÇÃO
UMA PESQUISA MUNDIAL REVELA A PERCEPÇÃO QUE BABY BOOMERS E MILLENNIALS TÊM UM DO OUTRO.
ESTRATÉGIAS SOB MEDIDA
Para criar campanhas de comunicação direcionadas aos consumidores com mais de 60 anos, a companhia aérea LATAM montou um grupo de trabalho. O primeiro passo foi debruçar sobre a pesquisa Truth About Age, da McCann Worldgroup – parte da Graphene, agência que atende o grupo. “A partir de discussões, começamos a fazer algumas campanhas a partir de um CRM direcionado para este público. Pudemos perceber que pessoas com idade mais avançada têm um poder de conversão maior para viagens quando comparado ao público mais jovem. Desde então, a gente vem investindo mais em ações segmentadas”, explica Daniel Aguado, gerente sênior de Comunicação e Marca da LATAM no Brasil.
Mais do que impactar, algumas empresas desenvolvem produtos e serviços específicos para a terceira idade. “É um mercado consumidor importante que vai comprar desde cosméticos até sabão em barra e leite Nestlé. A indústria alimentícia já percebeu que o mercado é grande para o consumidor que está nessa faixa entre 50 e 60 anos. O marketing começou a ter garotas-propaganda com 50 anos ou mais. Isso já é uma tendência global, pois essa geração envelheceu antes”, destaca Kalache.
“ O MARKETING COMEÇOU A TER GAROTAS-PROPAGANDA COM 50 ANOS OU MAIS. ISSO JÁ É UMA TENDÊNCIA GLOBAL, POIS ESSA GERAÇÃO ENVELHECEU ANTES”
ALEXANDRE KALACHE, PRESIDENTE DO CENTRO INTERNACIONAL DE LONGEVIDADE BRASIL
É o caso da Nestlé. Presente em 99% dos lares brasileiros, segundo pesquisa realizada pela Kantar Worldpanel, a empresa suíça tem, em seu portfólio, soluções nutricionais como o Nutren, um suplemento enriquecido com proteína, cálcio e vitamina D e para pessoas a partir de 50 anos. “Diante de um cenário no qual 50% da população acima de 50 anos já possui alguma condição de saúde que precisa de cuidados, nosso papel é estudar a fundo as necessidades desse consumidor e, assim, oferecer soluções para um envelhecimento saudável e uma melhor qualidade de vida”, afirma Lara Naccache Miranda, head de Marketing da Nestlé Health Science. Para tornar o acesso ao produto mais conveniente, hoje o consumidor pode comprá-lo por meio de um e‑commerce que oferece opções de entrega no mesmo dia, além de pontos de retirada em São Paulo e em Belo Horizonte. No ano passado, uma campanha feita pela marca mostrando casais com mais de 50 anos que vivem um grande amor conquistou o Leão de Ouro em Cannes.
A operadora de saúde Prevent Senior já nasceu com a proposta de abraçar o chamado público “Adulto Mais”, que corresponde àqueles com mais de 60 anos. A empresa, que tem entre os seus diferenciais uma rede própria de atendimento, investe agora em um clube de benefícios chamado “Experiências que Encantam”. Entre as vantagens estão descontos em produtos e serviços voltados para educação, bem-estar, viagens, gastronomia e cultura.
A Porto Seguro desenvolveu, em parceria com a Bidu, o Porto Seguro Auto Sênior. Voltado ao público 60+, o produto inclui assistência para residência, como configuração de aparelhos de informática e eletrônicos. O diferencial se dá no desconto de 20% no valor da franquia. “Realizamos constantemente pesquisas com os nossos clientes para captar os feedbacks e, assim, aprimorar o atendimento e os produtos oferecidos para os diferentes públicos”, explica Sonia Rica, diretora de Atendimento ao Cliente da empresa.
CARACTERÍSTICAS DA GERAÇÃO X
• CONECTADA E DIGITAL
• GERA MAIS DA METADE DA RENDA FAMILIAR
• É A QUE MAIS INFLUENCIA O CONSUMO
• COMPRA MAIS NOS CANAIS ON-LINE E VAREJO TRADICIONAL
• CONTRIBUI NO PAGAMENTO DE CONTAS DE OUTRAS GERAÇÕES
• 63% DOS DONOS DE NEGÓCIOS NO BRASIL TÊM MAIS DE 40 ANOS
• SÃO RESPONSÁVEIS PELA CRIAÇÃO DE 55% DAS STARTUPS AMERICANAS
FONTES: SEBRAE, STATE OF STARTUP E GRUPO ABRIL
O PODER DA GERAÇÃO X
Embora quase toda a agenda de marketing das empresas tenha os Millennials como alvo, a geração que mais detém o poder de consumo é a que a antecede: a X. “Ainda assim, não podemos nos esquecer de que essa é uma geração ofuscada pelo sucesso da geração que mais criou riqueza na história”, diz Roberto Meir. Os integrantes da Geração X representam 27,1% da população brasileira e geram, em média, 51,3% da renda das famílias. Composto por pessoas nascidas entre meados dos anos 60 até o início dos anos 80, esse grupo também não se vê contemplado na comunicação que as marcas estabelecem com seus consumidores.
Inquietos, os Xs também não veem com bons olhos os hábitos de velhices de seus pais, de modo que eles buscam aproveitar o auge de seu bem-estar financeiro da maneira mais intensa possível. Para atrair essa geração ao consumo, a estratégia é não insistir na mesma comunicação voltada aos Millennials. Afinal, gerações diferentes podem se sentir atraídas pelo mesmo produto, contudo, dificilmente compartilham da mesma linguagem.
Atenta ao sentimento de saudosismo dessa geração, a PepsiCo decidiu agir. “Atendendo a um apelo das redes sociais, relançamos, em abril do ano passado, o Cheetos Tubo, produto lançado nos anos 90”, conta Beatriz Tilkian, diretora de Insights & Consumer Relations da PepsiCo Brasil. Para relembrar a época, os consumidores tiveram que mandar um fax para o número da promoção com suas informações (nome completo, endereço, CPF e telefone). Os cem primeiros a realizar essa etapa receberam um pacote de Cheetos Tubo em casa. No Dia do Consumidor, celebrado no último dia 15 de março, a empresa também promoveu um bate-papo com pessoas de quatro gerações (X,Y,Z e Baby Boomers) para entender melhor os seus anseios.
“ATENDENDO A PEDIDOS DAS REDES SOCIAIS, RELANÇAMOS O CHEETOS TUBO”
BEATRIZ TILKIAN, DA PEPICO BRASIL
EM SINTONIA COM AS GERAÇÕES
Para entender quais marcas fazem a cabeça de cada geração, o Centro de Inteligência do Grupo Padrão (CIP) desenvolveu uma enquete com a seguinte pergunta: “Quais são as marcas que melhor atendem às suas expectativas, seja na hora de comprar um produto, seja na hora de contratar um serviço?”. A unanimidade ficou por conta da Apple, que aparece na preferência de todas as gerações. Samsung e BMG também dominam a lista. “Tivemos como resultado um total de 217 marcas citadas. Dentre elas, a Apple foi a que mais se destacou, com 17% das indicações, seguida do Banco BMG (16%), Samsung (13%), Netflix (12%), Nubank e PayPal (10%). Estas marcas, juntas, representam 26% da amostra”, explica Fernando Olmedo, gerente-executivo do Centro de Inteligência Padrão. Confira as marcas mais citadas por geração:
UM RETRATO DE CADA GERAÇÃO
PARA COMPREENDER AS PECULIARIDADES DE COMPORTAMENTO DIGITAL DE CADA GERAÇÃO, A CONSUMIDOR MODERNO CONVERSOU COM A FAMÍLIA COHEN. CONFIRA:
LUIZA COHEN, 8 ANOS
Embora ainda não tenha smartphone, ela utiliza o tablet para acessar conteúdos por vídeo no YouTube e filmes em streaming, sempre sob o olhar atento da mãe. “Gosto de ver filmes na Netflix e de assistir, no YouTube, a alguns vídeos de ‘faça você mesmo’”
JOÃO COHEN, 11 ANOS
Fã de super-heróis, tem um computador próprio, turbinado para melhorar o desempenho dos jogos – o que reforça que essa geração terá uma reconexão com os games que os grupos anteriores, de certa forma, perderam. “Como vou começar a ir e voltar sozinho da escola, este ano devo ganhar um smartphone”, comemora
CLAUDE COHEN, 77 ANOS
Momentos antes da entrevista, o engenheiro e administrador de empresas aposentado desliza os dedos em seu smartphone enquanto conversa com a família na sala. Para ele, o computador é cada vez menos útil diante das possibilidades do smartphone. “Uso o celular intensamente para o WhatsApp e outras redes sociais. Pelo celular é tudo mais prático”
VERA LUCIA COHEN, 70 ANOS
Síndica do seu apartamento, é usuária assídua do WhatsApp para resolver questões do condomínio. Ela também usa a ferramenta para fazer compras. “O funcionário de um mercadinho aqui próximo de casa me manda fotos das frutas, avisando das promoções do dia. Acho esse canal interessante porque entrega exatamente o que eu quero”, diz
FERNANDO COHEN, 45 ANOS
Professor de fotografia e português, Fernando é exímio representante da primeira geração que dominou com maestria o uso das novas tecnologias. Ele conta que costuma utilizar o celular para o compartilhamento de conteúdo em suas aulas. “Desde 2013, dou aulas de fotografia para celular e comecei a usar cada vez menos a câmera profissional para fazer as minhas fotos pessoais”, explica
CAROL MESQUITA, 43 ANOS
Doutora em teoria literária, Carol é uma mistura de X com Millennial. Quase sempre conectada, ela se preocupa com a alimentação e destaca um aplicativo que apresenta os componentes dos alimentos, o Desrotulando. “O app é de uma nutricionista brasileira e apresenta os aditivos que aquele alimento contém. Uso para acompanhar o que as crianças comem, por exemplo”
OS DESEJOS DOS MILLENNIALS
No centro das atenções de todas as marcas, os Millennials (ou Geração Z) são mais engajados politicamente do que as gerações anteriores. São responsáveis ainda por uma nova era: a do consumo com propósito. Portanto, estabelecer conexões afetivas com esse público também vai muito além de oferecer preços atrativos. Os Millennials também observam, na hora de comprar um produto ou contratar um serviço, se os valores da marca são coerentes com as ações praticadas por ela.
A C&A, por exemplo, passou a adaptar suas estratégias ao gosto dos Millennials. Um exemplo disso é o projeto Mindse7, que pretende diminuir de 120 para 35 dias o intervalo entre uma coleção e outra. “A gente tenta trazer uma história cada vez mais contemporânea para os nossos clientes. Contemporânea não no sentido de trazer o que é tendência nas grandes casas de moda, mas o que está acontecendo na rua, agora”, diz Paulo Correa, presidente da C&A.
Desde 2017, a Riachuelo também concentra seus investimentos na integração dos canais físico e on-line. Na loja da marca na Avenida Paulista, em São Paulo, por exemplo, o cliente pode pagar diretamente no provador ou mesmo retirar a compra em loja por meio de lockers desbloqueados via QRCode. “Temos muitas iniciativas em andamento e em fase de teste que irão mudar a forma de consumo em nossas lojas, sempre em linha com o nosso propósito de facilitar o acesso à moda”, completa Paulo Henrique Farroco, diretor de Tecnologia.
Mas as empresas também começam a entender que qualquer erro de estratégia pode ser fatal. Este ano, a AirFrance, por exemplo, anunciou que está estudando o futuro da marca Joon, uma companhia aérea lançada em 2017 com foco nos Millennials. Isso porque “a marca se fazia difícil de entender desde o início para clientes, funcionários, mercados e investidores”, disse a empresa em comunicado. O problema, talvez, tenha sido tentar convencer os Millennials a comprarem passagens de avião mais caras em relação às passagens de baixo valor oferecidas na Europa pela Ryanair.
Saber se comunicar com essa geração nascida entre o início dos anos 80 e meados dos anos 90 é fundamental. Segundo uma pesquisa de comportamento digital da Kantar, os Millennials precisam se ver dentro das propagandas. “São mais voláteis, preferem conteúdos mais curtos e mostram ter uma receptividade maior à publicidade – que as outras gerações – para anúncios com conteúdo que levam humor, música, design e que tenham celebridades (tanto influenciadores digitais como famosos)”, explica Maura Coracini, head de Digital & Midia da Kantar Millward Brown.
CONEXÃO SEM IDADE
A SEGUIR, O TEMPO QUE CADA GERAÇÃO PASSA NO MOBILE.
De acordo com o levantamento da Kantar, todas as gerações apresentam alto consumo digital, mas embora as redes sociais ocupem boa parte do tempo dos consumidores digitais, a TV ainda apresenta alto poder de impacto entre os brasileiros, mesmo entre a Geração Z, que apresenta 51% na média global e 63% no Brasil. A integração de plataformas é, portanto, inevitável. “Em nosso último estudo, revelamos que campanhas que conseguem fazer bem essa integração e customização entre criatividade e mídias são 57% mais eficientes em construir uplift de marca”, destaca Maura.
Enquanto aqueles com idade acima de 55 anos valorizam a liberdade de ajudar o País com seu espírito empreendedor, os Millennials veem, no empreendedorismo, a possibilidade de enriquecer. Não importa onde. Um levantamento feito pelo Indeed, site global de empregos, revelou que aqueles que trabalham ou estudam na indústria de tecnologia acreditam que a única alternativa para desenvolver suas carreiras e alcançar o sucesso é deixando o País.
“Os resultados mostram claramente uma percepção diferente entre faixas etárias. Enquanto gerações mais velhas confiam que o sucesso pode ser alcançado aqui, as gerações mais jovens estão menos convencidas”, explica Felipe Calbucci, country manager do Indeed no Brasil.
A geração que associou o empreendedorismo a um propósito maior de vida não se vê batendo cartão em uma empresa pelo resto da vida. “Na hora em que os Xs iam tomar o bastão no mercado corporativo, chegaram os Millennials, obrigando as empresas a mudar a regra do jogo”, diz Roberto Meir. “Acostumado com a gratificação instantânea, essa geração também passou a entrar em atrito com os Boomers ao ser contrariada por eles”. Não à toa, um levantamento realizado pela MindMiners com respondentes Millennials indica que 49% deles desejam trabalhar em um negócio próprio.
O PERFIL
DE CADA GERAÇÃO
BABY BOOMERS
Nascidos entre 1945 e meados dos anos 1960.
Nascida sob guerras e descobertas científicas, essa geração incorporou a palavra “trabalho” como nenhuma outra. Preza pela estabilidade financeira e costuma ser fiel a seus empregadores. Ainda incompreendidos pelas marcas, os consumidores dessa geração valorizam a durabilidade e o conforto dos produtos que consomem
HÁBITOS
• Controle financeiro: seus gastos não excedem os ganhos
• Comprariam mais se a comunicação das marcas dialogasse mais com eles.
• No e‑commerce, é a geração que mais busca por itens de moda.
• Lideram as compras de produtos e serviços de viagens.
• Passam 28 horas semanais em frente ao computador.
• 77% dos Baby Boomers comprariam mais se as marcas compreendessem melhor suas necessidades e exigências.
• São mais leais e patriotas.
GERAÇÃO X
Nascidos entre meados dos anos 1960 e início dos anos 1980
Cercada por grandes construções, trata-se da geração que ligou o motor do desenvolvimento, da globalização e da tecnologia. Esse grupo tem muito mais intimidade com a tecnologia do que a geração anterior
HÁBITOS
• Responsável pela maioria das decisões de consumo da família
• Gasta 66% mais com vestuário do que os Millennials
• Maior potencial para consumir produtos de luxo
• 77% preferem foco no produto em vez de causas ou ideias
• 85% preferem que as campanhas mostrem o produto da forma mais real possível
MILLENNIALS
Nascidos entre o início dos anos 1980 e meados dos anos 1990
Profissionalmente indecisos, eles buscam um propósito maior em suas atividades no ambiente de trabalho. A geração que vivenciou a revolução da internet também deu início à grande onda de empreendedorismo e startups. Por isso, mais importante do que ter dinheiro é estar feliz
HÁBITOS
• Deixam a casa dos pais cada vez mais tarde
• Valorizam o consumo com propósito
• Abandonaram a ideia de posse e abraçaram o consumo compartilhado
• Críticos e exigentes nas compras
• 80% desejam que as marcas os entretenham
• 70% sentem a necessidade de compartilhar sua visão com empresas após uma boa ou má experiência
GERAÇÃO Z
Nascidos entre meados dos anos 1990 e 2009
Os que nasceram nessa época já percebem os dispositivos digitais como algo natural em suas vidas. No Brasil, essa geração já representa 20% da população do País. Chamados de “nativos digitais”, eles redescobriram o poder de comunicação dos vídeos e veem o YouTube como uma grande oportunidade de negócio
HÁBITOS
• Personalização, evitando rótulos
• Relação mais crítica e consciente com as empresas
• Consumo como expressão de identidade
• 34% costumam realizar a prática de Webrooming (pesquisar on-line e comprar na loja física)
• Consumo médio de 23 horas de conteúdo em vídeo por semana
GERAÇÃO ALPHA
Nascidos a partir de 2010
Dependendo da sua idade, seu filho provavelmente faz parte dessa geração. Tal qual a Z, tem a tecnologia ocupando a centralidade de suas decisões. Serão monitorados e devem acompanhar uma profunda mudança nos processos de aprendizagem
HÁBITOS
• Tem o YouTube como propagador de conhecimento, entretenimento e informação
• Reconexão com videogames
• Mais transparência na relação com seus pais
• Tecnologia como aliada do aprendizado
O MUNDO É DELES
Nascida na virada do século 21 e sedenta para explorar o mundo além de suas aldeias, a Geração Z representará cerca de 32% da população mundial ainda este ano. Isso significa que ela será maioria em todo o mundo, ultrapassando os Millennials, que responderão por 31,5% segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Para Julia Curan, da WGSN, essa geração, bem como a seguinte, já não traz tantas semelhanças. “A Geração Z (nascidos entre 1994 e 2009) e a Geração Alpha (nascidos a partir de 2010) trazem comportamentos já bem distintos e vão representar uma força de consumo enorme daqui a alguns anos. O segredo está em entender primeiro quais são as gerações e, em seguida, como se preparar para elas”, explica.
Julia acrescenta que a Geração Z é a mais aberta às diferenças. Isso se reflete em campanhas cada vez mais engajadas entre os principais players varejistas. “A Geração Z se mostra ainda mais aberta ao diferente. Para eles, ‘o normal é ser diferente’. Mas cresce e se insere no mercado de trabalho em um cenário econômico não tão otimista assim”, diz a consultora. “As principais características – flexibilidade, diversidade e busca pelo bem-estar – aparecem como um desafio para os mais velhos. Isso impacta tanto as relações de trabalho quanto os relacionamentos em geral”.
No quesito marketing de influência, é uma geração que consome, principalmente, canais de vídeo. De acordo com um relatório do Google, cerca de 70% dos Zs que acompanham youtubers veem, nessas pessoas, mais influência do que em outras celebridades. Outra característica, segundo a pesquisa “Estilo de Vida das Gerações”, da Nielsen, é que essa é a segunda geração mais disposta a realizar pagamentos com vale-alimentação, além de ser a que mais come fora com frequência. Tem ainda, como principais hábitos, ouvir música, ler, ver TV, dividir momentos com amigos e família, viajar e comprar on-line.
“A GERAÇÃO Z SE MOSTRA AINDA MAIS ABERTA AO DIFERENTE. PARA ELES, ‘O NORMAL É SER DIFERENTE”
JULIA CURAN, DA WGSN
Ter um carro, por exemplo, não será necessariamente uma prioridade para as novas gerações, já adeptas às plataformas de mobilidade. Seja de carona compartilhada, seja de bicicleta, esse segmento possui grande demanda em cidades que tiveram seus mapas urbanos repensados. As bicicletas voltaram às ruas e abriram espaço para novos produtos, como scooters e bikes elétricas. É o caso da Yellow, que começou a operar com esse novo modal no dia 11 de março. “O ciclista vai sentir o pedal mais leve e a velocidade será alcançada com facilidade. Será, com certeza, um processo tão fácil como andar nas nossas outras bikes ou nas nossas patinetes elétricas” explica Ariel Lambrecht, founder da empresa.
CARACTERÍSTICAS DA GERAÇÃO Z
• 96% POSSUEM UM SMARTPHONE
• ATÉ 2020, REPRESENTARÃO 40% DE TODOS OS CONSUMIDORES
• NO CENÁRIO BRASILEIRO, É A GERAÇÃO QUE MAIS SE PREOCUPA COM QUESTÕES SOCIAIS
• 85% UTILIZAM AS REDES SOCIAIS PARA LER SOBRE NOVOS PRODUTOS
• O DESIGN É ELEMENTO
FUNDAMENTAL PARA 67% DOS COMPRADORES; NÚMERO MAIOR DO QUE QUALQUER OUTRA GERAÇÃO
OS CONSUMIDORES DO
FUTURO
Primeiro é preciso entender a origem do nome Alpha. Esse termo foi utilizado pelo sociólogo australiano Mark McCrindle para identificar os novos bebês que nasceram a partir de 2010. Para ele, trata-se de uma geração que será formada por pessoas mais independentes e com maior capacidade de resolver problemas em relação aos seus pais.
Considerada a geração que será mais inteligente do que todas as anteriores, esse grupo já começa a dar indícios de profunda transformação em diversas áreas, principalmente na educação.
O MUNDO É DELES
PARA ENTENDER COMO A GERAÇÃO ALPHA VAI CONDUZIR IMPORTANTES TRANSFORMAÇÕES NO COMPORTAMENTO CONTEMPORÂNEO, CONVERSAMOS COM FERNANDA FURIA, MESTRE EM PSICOLOGIA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES PELA UNIVERSITY COLLEGE LONDON E FUNDADORA DO PLAYGROUND DA INOVAÇÃO – CONSULTORIA DE INOVAÇÃO EM PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO. CONFIRA:
Consumidor Moderno: Quais são as principais diferenças comportamentais entre a Geração Alpha e as anteriores?
Fernanda Furia: Conhecida também como Geração de Vidro (por causa das telas) ou Geração IA (Inteligência Artificial), a Alpha – que contempla pessoas nascida entre 2010 e 2025 – deve se distinguir das gerações anteriores pelo fato de crescer com máquinas inteligentes. Smartphones, tablets, assistentes de voz, brinquedos conectados à internet, robôs companheiros e tecnologias imersivas estão moldando a formação cerebral, social e psicológica desta nova geração.
CM: Como será essa nova interação com a tecnologia?
FF: As crianças da Geração Alpha confiarão muito mais nas novas tecnologias dos que as gerações anteriores e irão se relacionar com as novidades tecnológicas de maneira cada vez mais emocional. Estamos vivenciando o início de uma era marcada por uma relação afetiva entre os seres humanos e as máquinas. A Geração Alpha buscará experiências mais imersivas e interativas já que tecnologias como realidade virtual e realidade aumentada serão parte do cotidiano delas.


Fernanda Furia, do Playground da Inovação
“AS CRIANÇAS DA GERAÇÃO ALPHA CONFIARÃO MUITO MAIS NA TECNOLOGIA”
FERNANDA FURIA, DO PLAYGROUND DA INOVAÇÃO
CM: Como os canais de vídeo entram nesse processo?
FF: As crianças da Geração Alpha mostram uma maior necessidade de escolher e de tomar decisões no seu dia a dia. Essa é uma das razões pelas quais canais como YouTube fazem tanto sucesso. Ao navegar pelos vídeos, as crianças podem escolher quais elas querem ver e em qual momento elas querem parar e mudar para outro vídeo. Na internet, elas escolhem e decidem o tempo todo, enquanto na vida presencial dificilmente os adultos lhes dão a chance de tomar decisões. A Geração Alpha será monitorada a todo o todo momento através de tecnologias vestíveis, monitores de saúde, reconhecimento facial e de voz etc. A quantidade de dados que teremos no futuro sobre as crianças será imensa, e as empresas precisarão saber organizar estes dados e interpretá-los adequadamente para criar estratégias de curto, médio e longo prazos.
CM: Qual é o tipo de comunicação que as empresas devem estabelecer com essa geração?
FF: Antes de as empresas se preocuparem em como se comunicar com a Geração Alpha, é fundamental que elas reflitam em como podem contribuir de forma ética para a formação global das crianças. Esta reflexão deve guiar a criação de novos negócios que sejam alinhados às necessidades e aos direitos desta nova geração. Os serviços e produtos voltados para a Geração Alpha devem ser cada vez mais personalizados, respeitando as características relacionadas ao desenvolvimento emocional e social de cada faixa etária.
“A GERAÇÃO ALPHA SERÁ MONITORADA A TODO O MOMENTO ATRAVÉS DE TECNOLOGIAS VESTÍVEIS, MONITORES DE SAÚDE, RECONHECIMENTO FACIAL E DE VOZ”
FERNANDA FURIA, DO PLAYGROUND DA INOVAÇÃO
CM: Ao que mais as marcas devem se atentar?
FF: Além disso, as tecnologias criadas para a infância devem ser desenvolvidas por equipes cada vez mais multidisciplinares, envolvendo profissionais de várias áreas para que seja garantido o bem-estar das novas gerações. Parcerias entre empresas de diferentes setores serão cada vez mais necessárias para o desenvolvimento de iniciativas voltadas para a infância. Uma comunicação autêntica, genuína e natural será muito importante para criar um diálogo de longo prazo com esta nova geração. Será cada vez mais importante, ainda, a criação de conteúdos simples, diretos e personalizados, sempre respeitando os direitos da infância porque não será mais sustentável a venda de serviços e produtos para este público sem garantir a ética e o bem-estar infantil. Somos todos responsáveis pela formação das novas gerações.
CM: Quais serão os impactos psicológicos da vida digital para essa geração?
FF: O impacto do ritmo acelerado, das mudanças constantes, da ultraconectividade e da falta de contato presencial ainda está longe de ser compreendido. Por isso, é importante lembrarmos que o amor, a interação olho no olho, o toque físico e a conversa entre as crianças e os adultos são os ingredientes mais importantes para o desenvolvimento saudável. As novas tecnologias devem ser nossas parceiras para nos ajudarem a exercer o nosso lado humano de forma mais eficaz em um mundo cada vez mais tecnológico.