
Lar, obrigatório lar
Jornalista e um dos apresentadores do programa Manhattan Connection da GloboNews
Eu estou na CONTRAMÃO da história. Há três anos, eu vendi minha casa no subúrbio (minha e do banco).Preocupado com despesas e minha total incapacidade, tão antiamericana, para o do it yourself, desde aparar a grama do jardim a fazer consertos. E nem falo da minha impotência para trabalhar em reforma da casa.
Hoje, morando em apartamento alugado, claro que tenho saudades da casa nestes tempos de pandemia. E os americanos estão ansiosos para comprar casa e, em graus variados na quarentena, usam o confinamento para o do it yourself.
E quem está fazendo bonito no país em profunda crise econômica? As grandes cadeias de lojas de material de construção. Desde março, Home Depot e Lowe’s batem recordes de vendas, tirando todo o proveito das mudanças dos hábitos do consumidor. Confinado no lar, com as férias e o entretenimento tradicional cancelados, o consumidor se distrai com projetos de melhoria da casa.
Os números mais recentes das lojas de material de construção foram ainda mais saudáveis, pois elas fizeram suas próprias reformas para o atendimento do cliente que, neste tipo de negócio, costuma aparecer em carne e osso. Não há o hábito online.
Nas filiais da Home Depot, o horário de fechamento das lojas foi esticado para serem evitadas as aglomerações de clientes. Produtos promocionais foram retirados dos corredores para reforçar o distanciamento social. A máscara é recomendada ao consumidor na entrada, mas ainda não é obrigatória.
O confinamento em casa também está deixando de ser uma perspectiva temporária, com a cristalização do conceito de home office. Muitos conhecidos meus colocaram mãos à obra e foram à Home Depot comprar os apetrechos para produzir o escritório caseiro e, em geral, isto é feito no porão da casa. Significa uma reforma dupla.
Há também compras cada vez mais inovadoras nas lojas de material de construção com o impulso para embelezar a casa. O lar, doce lar, é também o refúgio e a terapia nestes tempos de pandemia. Moradores estão se reengajando com suas casas, e no caso da Home Depot 1/3 dos clientes está se engajando com produtos diferentes e aparecem cada vez mais os consumidores aprendizes, de primeira viagem, e não apenas os empreiteiros de obras nesta gigante com 400 mil funcionários, US$ 100 bilhões de faturamento anual e na praça desde 1979.
As mudanças são permanentes? Claro que muito vai depender não apenas do rumo da pandemia, mas da consolidação ou não deste paradigma de mais trabalho a distância e em casa. Em conversas com analistas, os executivos das lojas de material de construção evitam a exuberância irracional, apesar do tom muito positivo. Eles admitem que existe muita incerteza fora de casa. Portanto, mãos à obra (não para mim).