
MUDANÇAS A CADA 20 MINUTOS
MAIOR CONFERÊNCIA MUNDIAL DE TECNOLOGIA E INOVAÇÃO, O WEB SUMMIT CONSAGRA, EM LISBOA, UMA JORNADA DE MUDANÇAS INCESSANTES E PROVOCAÇÕES EM SÉRIE. UM ECOSSISTEMA DE INOVAÇÃO E IDEIAS QUE SE RENOVA A CADA 20 MINUTOS
POR ROBERTO MEIR E JACQUES MEIR
Paddy Cosgrave, jeito de menino, millennial autêntico por volta dos 35 anos assume o palco. A plateia de quase 20 mil pessoas vibra e aplaude efusivamente. Nesse momento, quando Paddy anuncia a abertura oficial do Web Summit, o mundo da tecnologia parece entrar em transe. Desde 2009, esta conferência global vem crescendo em influência, engajamento, geração de negócios e números. Em 2018, o evento reuniu mais de 69 mil participantes, de 159 países, 1.200 palestrantes, 1.800 startups, 1.550 investidores e mais de 550 mil agendamentos de palestras foram feitos pelo app do evento. Esses números revelam o poder de um ecossistema que mobiliza milhares de empresas que se conectam umas às outras, seja por meio do conteúdo, da inovação, das tecnologias, seja por meio da criação orgânica de negócios e oportunidades que trafeguem por plataformas digitais. É justamente essa a característica mais evidente da força do Web Summit, a proposta de ser um ponto de encontro e convergência de tecnologias, ideias, plataformas, conceitos, práticas, empresas, profissionais que se combinam e recombinam continuamente espalhados por quatro pavilhões e pela Meo Arena em Lisboa.
Durante quatro dias, os milhares de participantes espalham-se pelo ambiente, correndo de uma ponta a outra, procurando palestras e debates espalhados pelas mais de 20 (20!) verticais de conteúdo oferecidas pelo evento. É possível ver dezenas de painéis sobre blockchain, Inteligência Artificial, fintechs, criptomoedas, inovação, entretenimento, transformação digital, IoT, cibersegurança, design, veículos autônomos, políticas públicas e o que mais for possível conceber tendo a tecnologia como meio para a execução de ideias. A gigantesca oferta de conteúdos traz, contudo, um elemento essencial: painéis, debates, apresentações, solo, cases são apresentados em não mais de 20 minutos. Isso quer dizer que cada apresentação, em cada vertical, foca um assunto de forma intensa e sem pausas. E, tão logo uma apresentação termine, é imediatamente seguida por outra, tocada no mesmo ritmo. Mas, diante de tanta oferta, é normal que um participante saia de uma sala e corra para outra bem distante da primeira. O que faz com que determinados conteúdos tenham uma audiência desproporcionalmente grande, mas nunca pequena.
Os 20 minutos têm outros significados, que representam a velocidade exigida de empresas e profissionais atualmente: mudanças acontecendo em todo lugar, ideias latentes em toda parte, arranjos e designs surgindo a todo instante. A cada 20 minutos é possível mergulhar em cidades inteiras gerenciadas por meio de blockchain, vislumbrar um debate de robôs como o prenúncio da criação de uma mente global, observar protótipos de carros voadores, entender como é possível orientar toda uma cadeia de valor para produção somente com energia limpa e até mesmo vermos Tim Berners-Lee, o “pai da internet”, propor um novo contrato que resgate os princípios que nortearam a criação da rede.
PERPLEXIDADES E COMPLEXIDADES
Em 2019, o Web Summit não se furtou a discutir todos os desdobramentos da Inteligência Artificial e da ascensão dos bots e outros mecanismos cognitivos. O futuro do trabalho e dos negócios, do consumo e da sociedade foi pauta recorrente. Quando Sophia The Robot e Ian The Robot subiram ao palco do Centre Stage centenas de pessoas correram para ver de perto um debate entre seres cibernéticos. A provocação ali era evidente: estaríamos vendo os seres que irão nos substituir no comando do planeta? Esse misto de perplexidade e admiração traduz bem a sensação de estarmos diante de um momento histórico privilegiado. IAs representam o triunfo do algoritmo sobre as indecisões, os vieses e os juízos de valores tão humanos. É precisamente porque estes seres se dedicam a fazer somente o que pedimos, sem racionalizar, que conseguem fazer melhor! Esse é um dos grandes ensinamentos do Web Summit. As Ias, impulsionadas por algoritmos, fazem o necessário e aprendem o essencial, continuamente, sem parar. Em alguma medida, as IAs se aprimoram a um ponto em que inteligência não é mais necessária para a execução, somente para o aprendizado. Parece complexo e é, na verdade. Isso porque robôs já fazem parte de nossas vidas: atendem em restaurantes, em bancos, em hotéis, em sites, nas residências e em centrais de relacionamento. Já ligam para nós, já fazem compras e tomam decisões que abrimos mão de tomar.
O Web Summit representa, nesse sentido, o retumbante triunfo da tecnologia e de sua presença imanente em nossa sociedade. O evento “roda” muitas tecnologias, comenta e discute muitas ideias derivadas de suas aplicações e força os limites da imaginação e do ceticismo, mostrando que há um mundo pronto para romper com padrões estabelecidos, empresas estabelecidas, sistemas políticos estabelecidos. Muito provavelmente o “contrato” que Tim Berners-Lee pede para “salvar” a internet será, na verdade, um procedimento simples, que será trabalhado de forma precisa por entidades cibernéticas. Se conteúdo ofensivo, malicioso, que incentive os lados obscuros da mente humana ameaçar a existência das pessoas e das IAs, é possível criar uma IA que bloqueie essa malversação de propósito.
De modo prático, o Web Summit é importante para a realidade brasileira? Sim e de modo inapelável. Considere que 80% dos participantes têm menos de 30 anos. Toda uma geração global se alinha às ideias e aos valores do evento, plugando empresas incumbentes, insurgentes, tradicionais, startups, autoridades públicas, pensadores e celebridades para recriar negócios velozmente. O leitor já desconfia: a cada 20 minutos alguns novos negócios podem ser criados naquele ambiente, desconstruindo empresas estabelecidas e trazendo soluções inéditas para problemas obscuros. Essa convivência é vital para um País como o nosso, fechado e ensimesmado por anos de soberba e decisões infelizes. A primeira impressão no Web Summit é um choque.
