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Novas práticas de conexão entre empresas e consumidores
Futurista e keynote do CONAREC 2020 diz que o futuro espera um constante caminho de inovação e valores sustentáveis
Por Éric Visintainer
A PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS desencadeou novos hábitos e comportamentos nas organizações, nos consumidores e em sociedades inteiras. Mas o que mais pode se transformar nos próximos anos? A Consumidor Moderno explorou esses aspectos em uma entrevista com uma das principais futuristas do mundo, além de estrategista corporativa e CEO da Play Big Inc.
A norte-americana Nancy Giordano é uma otimista e evangelista sobre como os sistemas operacionais extrativos e o pensamento de negócios ultrapassados e insustentáveis devem dar lugar para a criação de modelos de negócios mais sustentáveis, inclusivos e dinâmicos. Ela será a primeira palestrante convidada do CONAREC 2020, no dia 7 de outubro, para abordar o tema “Anormal e antinormal: o despertar de um consumidor em reconexão”.
O evento vai apresentar para o mercado o despertar de uma nova consciência, para uma nova realidade, nesse momento “antinormal” e, fundamentalmente, as novas práticas de conexão entre empresas e consumidores. A programação será imersiva, com dois dias de conteúdos inéditos sobre o consumidor em reconexão, e vai acontecer nos dias 7 e 8 de outubro em uma experiência digital e multiformato. Acesse conarec.com.br para garantir o seu ingresso.
A CM conversou com a Giordano sobre temas como o que o futuro precisa e espera de nós; mudanças na relação entre empresas e consumidores; adaptações sociais; conexões entre novas tecnologias, empresas e consumidores; além de um aperitivo sobre o que você pode esperar da participação da futurista no CONAREC. Confira a entrevista abaixo:
CONSUMIDOR MODERNO – O QUE O FUTURO PRECISA E ESPERA DE NÓS COMO ORGANIZAÇÕES, ESPECIALMENTE NO QUESITO DE MENTALIDADE?
NANCY GIORDANO — Esta á minha pergunta favorita. Este é o ínicio do meu seminário estratégico e é assim que moldamos tudo: O que o futuro precisa e espera e como se posicionar para criar e contribuir com este futuro. E vamos falar sobre isso no CONAREC 2020. Como indivíduos, organizações, indústrias e até, eu diria, como nações, para começar a responder a estas questões e isso pode variar. Há muito que o futuro está nos mostrando que precisa de nós em termos de empatia, inovação, agilidade na tomada de decisão, justiça, comportamento ético e, ao mesmo tempo, de ideias audaciosas. É animador quando você olha o panorama inteiro e como está se moldando.
CM – VOCÊ MENCIONOU DOIS PONTOS-CHAVE QUE NÓS NORMALMENTE DISCUTIMOS: MENTALIDADE ÁGIL E INOVAÇÃO, BEM COMO A PARTE ESTRATÉGICA. VOCÊ DIRIA QUE UM DESSES PONTOS TEM MAIS IMPORTÂNCIA DO QUE O OUTRO CONFORME AVANÇAMOS PARA O FUTURO?
NG - Eu acho que todos se complementam. Eu realmente penso que nós precisamos repensar o que fazemos, porque há muito no trabalho que realizamos. Eu posso te dizer que, no futuro, vamos precisar mais de coisas extraordinárias e mostrar o macrocenário, mas, se você não acredita nisso e não vê como chegará de um ponto ao outro, você apenas nega que existe a possibilidade, resiste e não entende alguns dos pontos para realizar a mudança. Começamos a pensar menos sobre quais são as principais tecnologias disruptivas e mais sobre como começamos a nos tornar mais curiosos e a aprender sobre elas.
“Como acessamos o risco de forma diferente?” Esta é a grande mudança mental. E como pensar no fato de que precisamos priorizar inovação versus crescimento constante? Porque historicamente os negócios têm sido sobre serem mais consistentes e garantir que haverá um ganho em curto prazo, não tomar riscos e conter tudo, basicamente afastando o que seja variável. E agora estamos em um mundo no qual devemos convidar as variáveis, convidar as diferentes formas de se fazer algo e testar as coisas em uma forma mais restrita, adentrando sem necessariamente saber como será o resultado e aprender com isso, sem considerar como um fracasso ou algo do gênero. Esta mentalidade é crucial. Eu não separo a parte estratégica da mentalidade. Eu sinto que elas estão linkadas para abordar o que o futuro precisa e espera, que é um constante caminho de inovação e valores sustentáveis versus o crescimento contínuo. Nós precisamos pensar de forma diferente sobre o que fazemos.


agora estamos em um mundo no qual devemos convidar as variáveis sem considerar como um fracasso ou algo do gênero. Esta mentalidade é crucial
CM – QUAIS FORAM ALGUMAS DAS MUDANÇAS SOCIAIS RECENTES QUE VOCÊ VIU OU EXPERIENCIOU AO REDOR DO MUNDO NOS ÚLTIMOS SEIS MESES?
NG - Tudo foi acelerado. A maioria das coisas que estamos vendo agora nós sabíamos que estava acontecendo, e muitos futuristas, como eu, estão encorajando os negócios para serem mais ágeis, digitais, humanos, sustentáveis e justos. Estes são aspectos que estávamos encorajando porque sabíamos que o futuro demandaria. E, quando a pandemia estouro, ela colocou tudo isso em significativo alívio. Estamos vendo ao menos uma mudança para o estilo de vida digital: trabalho, medicina, educação, comunicação, vida social e casamentos. Espero que isso tenha ajudado a passar algumas das preocupações e medos, e agora estejamos mais confortáveis e adaptados conforme mais tecnologias apareçam. Nós mal estamos no que acreditamos que será um futuro mais tecnologicamente robusto. Espero que agora já tenhamos entendido que estas coisas não são tão assustadoras. Nos sempre foi dito que elas [as tecnologias] eram muito disruptivas, caras, frias. E agora tivemos de entender que isso funcionou melhor do que achávamos que iria. Começamos a falar sobre realidade virtual, realidade aumentada e como utilizamos IA em diferentes formas. Espero que as pessoas sejam mais abertas a isso.
Para mim esta é uma mudança positiva. Acho que pensamos mais em sustentabilidade e sobre o nosso impacto no planeta, e esta é uma mudança positiva também. Nós pudemos ver que, quando tudo parou, o ar e a água ficaram mais limpos. Estamos reconhecendo o nosso impacto no planeta, mas também o impacto do planeta em nós. As pessoas que viviam em áreas com a pior qualidade de ar eram as mais vulneráveis ao vírus da Covid. Estamos vendo que existe uma relação mais abrangente entre nós e a natureza e espero que tratemos isso com mais respeito, de uma forma mais justa, seja social, seja econômica e de gênero.
CM – COMO UMA FUTURISTA QUE SE DESCREVE COMO OTIMISTA, COMO VOCÊ AVALIA AS ATUAIS CONEXÕES ENTRE AS NOVAS TECNOLOGIAS, AS EMPRESAS E OS CONSUMIDORES?
NG - Eu me referiria como sociedade, não apenas como consumidores, mas pensando no nosso papel como uma sociedade e a nossa conexão. Para mim, os negócios serão remodelados pela tecnologia; será uma grande aceleração que mudará a forma como fazemos tudo. E já vimos este cenário, durante a pandemia, de como mudamos para e‑commerces, telemedicina e outras formas de pagamento sem contato. Definitivamente, veremos mais e mais aceleração e isso remodelará os negócios ou criará empresas da mesma forma que a Internet e as mídias sociais fizeram. Estas tecnologias congruentes vão remodelar o que fazemos. As perguntas se tornam: Quais são os limites? Quais são as implicações éticas? Como asseguramos que não haverá muito viés desenvolvido em conjunto ou que estas tecnologias explorem o pior do nosso comportamento em vez do melhor do nosso comportamento? Quando você consegue ver no horizonte que podemos reformular como vivemos, produzimos comida, nos transportamos e aprendemos – como vamos morar –, é realmente empolgante. Nós só temos que tomar algumas decisões responsáveis.

CM – QUAL É O SEU ENTENDIMENTO SOBRE COMO A SOCIEDADE TEM LIDADO COM O FENÔMENO DA REFORMULAÇÃO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO, COMPORTAMENTO E INTERAÇÕES SOCIAIS?
NG - Por conta da mudança do nosso comportamento nos últimos seis meses, talvez possamos reavaliar algumas escolhas. O que é realmente importante e o que não é importante. É interessante como fizemos do delivery algo regular e parte das nossas vidas. Eu tenho entregas da Amazon vindo para a minha casa quase todos os dias. O meu pai, que tem 86 anos, me ligou outro dia e disse que precisava de um miniforno, mas não sabia como encomendar. Então, pedi um on-line na Amazon e ele recebeu no dia seguinte. E eu ri porque em dois anos isso poderá acontecer via drone. Por um lado, ficamos mais críticos sobre as nossas compras, mas por outro nos tornamos mais exigentes sobre como queremos exatamente o que queremos, no momento em que queremos, e, se não se encaixa nesta expectativa, ficamos chocados que não aconteceu. As expectativas vão continuar a crescer e, ao mesmo tempo, ficaremos mais conscientes das escolhas que estamos fazendo. E teremos mais ferramentas que vão nos encorajar a ser desta forma. Investir em curiosidade é um grande investimento de negócio. Não é uma perda de tempo ou uma indulgência. Isso é a chave para o trabalho estratégico que precisamos realizar. “Eu me pergunto: Como isso está avançando? Como mudar o meu negócio? O que é necessário para começar? Com quem eu preciso aprender e o quê? Com qual tentativa eu poderia começar?” Estamos tentando desenvolver esta mentalidade de ser constantemente curiosos e como isso pode nos impactar. E irá. O que parecia ficção científica há alguns anos irá se tornar uma realidade e está acontecendo mais rapidamente. Ser mais adaptável, curioso e testar coisas será de grande importância para seguir em frente.

As expectativas vão continuar a crescer e, ao mesmo tempo, ficaremos mais conscientes das escolhas que estamos fazendo.”
CM – COMO VOCÊ SE MANTÉM CURIOSA DIARIAMENTE COMO PESSOA OU PROFISSIONAL E QUAIS DICAS VOCÊ PODE COMPARTILHAR?
NG - Se você perguntar a qualquer líder executivo qual qualidade é necessária para obter sucesso ele dirá: seja curioso. Da Amazon ao Google, em qualquer empresa, o que é ótimo, porque eu era aquela criança que sempre perguntava: por quê? O meu tempo chegou porque há muito para se aprender. Há mais conteúdo criado nos últimos dois anos do que na história da humanidade, então, não há uma escassez de assuntos para aprender e formas de se aprender. Eu sou uma leitora feroz, não necessariamente de livros. Eu leio as primeiras 50 páginas, e espero continuar, mas existem tantas formas em que a informação é agrupada, selecionada e personalizada, o que é bom e ruim, mas para a maior parte há uma variedade. Eu utilizo o meu tempo para conhecer pessoas interessantes e conversar com elas. Percebo que os executivos veem isso como uma perda de tempo, e eu digo, novamente, que é algo central para o que devemos fazer. No próximo ano, iremos assistir a menos palestras e conversaremos e aprenderemos mais uns com os outros. A aprendizagem entre colegas será muito importante. Estamos caminhando juntos e há muito que podemos mostrar uns aos outros.
CM – QUAIS SÃO OS SEUS PRINCIPAIS INSIGHTS PARA DESENVOLVERMOS UMA PRÓXIMA ETAPA MELHOR NA ESTRUTURA DOS NEGÓCIOS NO PÓS-PANDEMIA?
NG - Há oito pontos que vou descrever em detalhes na palestra durante o CONAREC 2020, mas vamos tentar abordar a estabilidade do meio ambiente e os negócios, que vão ter de pensar em como ser mais circulares e responsáveis na forma como tomam decisões, a transformação digital, a transformação nas receitas dos negócios, a melhoria e a reaprendizagem dos colaboradores. Para para que tudo isso tenha sucesso, é necessário ter uma cultura corporativa forte e ter a certeza de que será abordado o bem-estar social e emocional, porque há muita pressão nas pessoas para se transformarem rapidamente. Estes são passos mandatórios para que os negócios prossigam. Não se pode escolher apenas um deles; você precisa olhar para todos simultaneamente.
CM – O QUE A AUDIÊNCIA PODE ESPERAR DA SUA PALESTRA DURANTE A ABERTURA DO CONAREC 2020?
NG - Espero que seja uma extensão desta conversa com a concepção do que o futuro precisa e espera; abrir a imaginação sobre o que é possível, quando olhamos o horizonte; e uma apreciação de que temos as habilidades para construir uma capacidade adaptativa para trazer o futuro para mais próximo. Isso não será algo remodelado por outras pessoas; será remodelado por nós. O que é necessário para que isso aconteça? Quais são as oportunidades que temos? E como vamos fazer isso?