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Movimentações em direção ao futuro
Neste cenário volátil no qual nos encontramos, a curiosidade tem papel fundamental e a educação poderá chegar ao nível quântico. Confira a conversa com dois grandes representantes da escola sueca Hyper Island
Por Éric Visintainer
Que a digitalização veio para ficar, disso você já sabe. Mas, como se manter competitivo, com a magnitude na quantidade de inovações ao redor do mundo, com diferentes corporações “invadindo” setores para os quais não foram originalmente criadas? A Hyper Island, escola de educação executiva sueca, fundada em 1996 em uma antiga prisão militar, tem como lema que os seus alunos “descubram como se antecipar e se adaptar às últimas tendências e tecnologias digitais, para fazer um progresso real em suas carreiras e acelerar a transformação dos negócios”. Confira a conversa da Consumidor Moderno com dois diretores para as Américas da instituição, Benito Berretta, economista e diretor-geral, e Tim Lucas, antropólogo e diretor-executivo na área de educação.
CONSUMIDOR MODERNO – OS DESAFIOS NOS NEGÓCIOS VÃO PERMANECER OS MESMOS NO PÓS-PANDEMIA? COMO LIDAR COM AS MODIFICAÇÕES NAS INTERAÇÕES SOCIAIS?
BENITO BERRETTA — Há pessoas que negam esta situação e que pensam que este cenário vai passar e tudo voltará como antes. Existem pessoas que estão confusas e não sabem para onde ir. E elas buscaram criar espaços de reflexão para ser antifrágeis e aproveitar o caos para tirar o máximo. E outras que aumentaram os negócios e faturam mais. Que negavam a crise e querem voltar ao normal. As equipes estão sofrendo muito porque, se você não abre o diálogo com as pessoas, isso é duríssimo para a moral das equipes e para as empresas. E as companhias começam a retroceder por perderem oportunidades, força, desmoraliza a equipe e os concorrentes começam a se mexer. Ter empatia pelas pessoas vai trazer resultados em médio e longo prazos.
TIM LUCAS — Recentemente, em um artigo nos Estados Unidos, foi dito que todo mundo deveria voltar para os escritórios. Para mim, uma reflexão deste momento é que, cada situação é diferente, cada um de nós lida com isso de forma diferente. Não existe o normal; ele normalmente é muito perigoso. O normal é para quem tem poder e pode defini-lo. As empresas que conseguem evoluir mais rápido são aquelas que conseguem olhar para fora da zona de conforto, fora dos extremos, querem atender às diferentes demandas e têm como aprender com situações diferentes e extremas. Você pode querer voltar, mas as empresas que vão sair melhor deste momento são aquelas que conseguem melhorar dentro desta ambiguidade e complexidade.
CONSUMIDOR MODERNO – PARA VOCÊS, QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS EMPRESAS QUE ESTÃO SE ADAPTANDO A ESTE CENÁRIO VOLÁTIL?
BB — As empresas que estão se dando melhor são aquelas que estão deixando os funcionários cocriarem este nunca normal. Se você é verdadeiro em olhar as pessoas, você não pode deixar uma régua raza. Falamos muito de etiqueta e criamos alguns convites para o mundo virtual, como ligar a câmera para ter o contato visual e a empatia. É uma regra para ser aplicada sempre? Não. Em um mundo sem regras claras, o que hoje pode ser uma coisas amanhã pode ser diferente. A palavra-chave é você ser ágil e flexível para se adaptar.
TL — Todas as empresas que conseguiram entender que o que realizam para experiências
internas, para os funcionários, se traduz nas experiências oferecidas aos usuários serão as que mais vão conseguir avançar. Elas entenderam que não se pode pensar na experiência do usuário e não oferecer uma experiência melhor para os seus próprios funcionários.
CONSUMIDOR MODERNO – COMO VOCÊS ENTENDEM QUE ESTAS EXPERIÊNCIAS INTERNAS PODEM REFLETIR O ATENDIMENTO AOS CLIENTES?
BB — Isso passa muito pelos líderes, o que eles fazem e não o que falam. Com a pandemia, perdemos o momento do cafezinho. E uma pessoa me contou que o chefe ligou para ele apenas para falar, por 20 minutos, sobre o novo cachorro que havia adotado. Um líder que possui tempo para ouvir uma outra pessoa seguramente está se ouvindo. Este líder seguramente também liga para os clientes, para saber genuinamente como estão, e isso tem um impacto na fidelização dos clientes.
TL — Este é um momento para observar oportunidades de fazer diferente. A gente fala muito de problemas invisíveis, quando o usuário não sabe que você pode fazer algo diferente. Queremos menos hierarquia para poder empoderar as pessoas que estão mais próximas dos problemas dos usuários. O líder que entende isso consegue avançar.
CONSUMIDOR MODERNO – O LIFELONG LEARNING FINALMENTE CAIU NO GOSTO POPULAR?
BB — Hoje há um estudo que mostra que, ao aprender uma nova língua, você até cria novos neurônios. E a criação de novas células neurais está atrelada à longevidade e à saúde na longevidade. Vivemos em uma bolha por sermos ávidos aprendizes. O nosso conceito de ensino: aprender fazendo, aprender com os outros, refletir, e você retira o que você coloca. O lifelong learner é quem completa o ciclo de aprendizagem (estuda, aplica, “deixa decantar” e passa um tempo sem fazer nada, para depois estar pronto para um novo conhecimento). Vejo uma maior aquisição de habilidades no mundo. E pode ser que o lifelong learning desperte quando você tiver as suas necessidades básicas preenchidas.
TL — Antes de começar esta entrevista, estava ministrando um curso e a minha filha entrou para explicar o que se pode aprender ao jogar Fortnite. E eu vi o prazer dela em falar e as pessoas aprendendo. Então, isso de mentoria reversa e novas formas de educação e de aprender algo estão cada vez mais próximas no Brasil. Eu acredito que o problema não seja o brasileiro, mas sim institucional, pois a grande maioria das pessoas que conheço tem uma grande curiosidade. O conceito de aprender, desaprender e reaprender todos os dias está mais presente sim.
CONSUMIDOR MODERNO – QUAIS TENDÊNCIAS VOCÊS ENXERGAM em MÉDIO E LONGO PRAZOs NA EDUCAÇÃO E COMO ESTÃO SE ADAPTANDO A ELAS?
BB — Há 60 anos, há dois fatores que são o motor das mudanças na educação: automatização e intensidade. Talvez no futuro você conseguirá automatizar as experiências automatizadas – e você terá sistemas de aprendizado quânticos, que são sistemas de educação ambíguos e superpostos, em que a pessoa vai navegar entre infinitas possibilidades. E você vai construir a sua aprendizagem de maneira interativa e, ao mesmo tempo, flexível. Teremos uma maior automação, com a ampliação de oferta, e a conectividade vai permitir mais profundidade, criatividade e aprendizagem profunda.
TL — Quando se fala em futuro, eu tenho mais perguntas do que respostas. Quando falamos sobre como os nossos filhos aprendem, não sei se é com o Twitch, e talvez este seja o nosso maior concorrente no futuro. Há dois anos, adolescentes criaram um blockchain para trocar gorjetas se alguém te ajuda a aprender algo novo. E talvez este seja o novo modelo de aprendizagem. E terá um pouco mais de gamification. Mas, o que as pessoas realmente querem é uma experiência profunda de aprendizagem e é isso que os meus filhos aprendem dentro do Fortnite. Eles têm experiência, aprendem e resolvem problemas complexos. Acho que quem conseguir oferecer isso da melhor forma, em um ambiente social e individual, terá mais chance no futuro.