REBECA DE MORAES
Diretora da Soledad
O NOVO HOMEM
NÃO EXISTE
O NOVO HOMEM NÃO EXISTE
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“As mulheres não estão mais em casa. O mercado de trabalho não é mais tão masculino. Os ícones de masculinidade envelheceram”
Há pouco passamos por um Dia dos Pais, data em que inevitavelmente vemos na mídia campanhas retratando homens em torno da criação dos filhos. Estamos vendo novas representações deste homem mas, andando pela América Latina e entrevistando quem está mudando o comportamento na região, vemos que os homens não estão assim tão mudados quanto as propagandas mostram. O “novo homem”, que já foi anunciado por aí, não existe. O que há é um homem que está vendo seu lugar tradicional posto à prova e, diante disso, esboçando passos para entender seu lugar na sociedade.
As mulheres não estão mais em casa. O mercado de trabalho não é mais tão masculino. Os ícones de masculinidade envelheceram. O sustento, antigo lugar de afeto à moda masculina, não é mais exclusividade deles. Não existe “novo homem” no futuro da masculinidade, mas o início de uma busca por novos territórios de afetos e emoções.
Historicamente, o homem ocupa na sociedade o papel do provedor: aquele responsável por sair à caça e garantir o alimento da família ou, na contemporaneidade, o que se lança ao mercado de trabalho para ganhar o dinheiro suficiente para sustentar sua casa e sua família. Não à toa, a racionalidade, a força e a rigidez sempre estiveram entre as características esperadas por um homem. Se esse fosse o início do trailer de um filme, ao cortar para 2013, veríamos o início de uma ruptura nessa trajetória, atravessada pelo avassalador movimento de empoderamento feminino.
Ao dizer aos homens que as ruas não seriam mais seus espaços de poder na campanha “Chega de Fiu Fiu”, no Brasil, e marchar expondo a violência do feminicídio nos protestos “Ni Una Menos”, na Argentina, ou o “¡Vivas nos queremos!” na Colômbia, mulheres latinas estavam não só criando seus espaços em meio a sociedades patriarcais e machistas. Elas também estavam puxando dos homens uma redefinição de seus papéis. E é isso que estamos assistindo acontecer a partir de agora, em 2019 em diante.
Entre os homens da América Latina, 63% acham que o empoderamento feminino os leva a repensar seu lugar na sociedade. As mulheres ocuparam mais o mercado de trabalho – consequentemente, estão ocupando espaços que eram deles. E mais do que isso: espaços que eram simbólicos de um lugar social desse homem, de provedor. Ao perder esse lugar, estamos vendo homens em busca de novas formas de demonstrar afeto.
MASCULINIDADE AFETIVA é como chamamos este novo momento, em que, após a força do empoderamento feminino, os homens veem seu lugar tradicional posto à prova e procuram novos territórios de projetar afetos, longe das demonstrações racionais de poder. Sai o homem provedor, de um tempo em que prover (trazer dinheiro, ser o chefe da casa, ter a palavra final) era sinônimo de cuidar, e entra a possibilidade de mostrar afeto de outras formas – com todas as dificuldades inerentes a inventar para si um novo comportamento, que não seja marcado pelo olhar feminino, que não seja “coisa de mulher”. Inventar uma via que seja proprietária dos homens e não herdada da norma feminina, como a vaidade ou a ideia de “dono de casa”.
“As mulheres não estão mais em casa. O mercado de trabalho não é mais tão masculino. Os ícones de masculinidade envelheceram”