REBECA DE MORAES
Sócia-fundadora e diretora
da Soledad
OS SEGREDOS DE
MARIE KONDO
OS SEGREDOS DE
MARIE KONDO
REBECA DE MORAES
Sócia-fundadora e diretora
da Soledad
“Vivemos um momento no qual narrativas que produtos podem criar importam mais que
os produtos em si”
De repente, uma enxurrada de Insta Stories de pessoas fazendo bazares em casa. Alguns anunciam suas roupas em sites de revenda. Outros divulgam convites de eventos organizados entre amigos no estilo “família vende tudo”. A onda de desprendimento tem nome: Marie Kondo. A japonesa, autora do best-seller “A Mágica da Arrumação”, protagoniza a série “Ordem na Casa”, da Netflix, em que mostra na prática o que ensina no livro: como conseguir uma vida nova por meio da arrumação da casa. E não são poucos os brasileiros que, depois de assistirem aos episódios do programa, andam se inspirando na metodologia dela para desapegar dos pertences.
Organização de casa não é lá nenhuma novidade, mas o método de Marie atende à antiga necessidade de viver em harmonia com objetos de um jeito diferente, novo e conectado com as tendências – daí entendemos o porquê de tanto sucesso. A chave do processo ensinado pela japonesa vai além de põe e tira de coisas. Ela vai além quando diz que cada pessoa deve ter em casa apenas os objetos que lhe trazem felicidade, estimulando que se mantenha apenas aquilo com que se tem uma relação emocional relevante. Marie não fala só de organização de objetos, mas anuncia a necessidade de ter histórias para contar sobre os objetos.
Os suecos estão sempre no topo da lista das pesquisas que medem as populações mais felizes do mundo e têm sempre uma receita para isso. Uma das mais recentes atende pelo nome de “lagom”, que representa uma vida equilibrada, que não tenha nem muito nem pouco. No universo do consumo, podemos traduzir essa ideia como o equilíbrio entre ter um closet gigantesco de celebridade e um armário com cinco peças de roupa, como a dupla do documentário (também da Netflix) “Minimalismo”. É ter só aquilo com que você tem apego de
ordem emocional.
a série americana, o sucesso de Marie Kondo é atribuído ao desejo do público de assistir a grandes acumuladores se livrando de depósitos lotados de tralha. No Brasil, a popularidade da receita de organização se explica de outra forma: pelo crescente desejo do brasileiro, mergulhado numa intensa crise econômica, de ter apenas o que se consegue usar integralmente. E a gente só usa por inteiro, com a sensação de que fez bom uso, quando se conhece aquilo profundamente, de várias formas. É sentir na emoção o que se chama racionalmente de relação custo-benefício.
Vivemos um momento no qual narrativas que produtos podem criar importam mais que os produtos em si. Um produto que conta história é aquele que proporciona uma experiência interessante, autenticidade (o que faz o consumidor poder contar uma história única) ou versatilidade (vários tipos de uso, em momentos diferentes). É uma boa história que vai garantir a conexão emocional entre marca e consumidor nos próximos anos – e também o que vai fazer seu produto passar com louvor pela fatídica pergunta que Marie Kondo recomenda que se faça ao se deparar com um objeto durante o processo de organização: “esse produto traz felicidade?”. Um produto que proporciona história para contar não vai receber um não.
“Vivemos um momento no qual narrativas que produtos podem criar importam mais que os produtos em si”