PRONTOS PARA A GERAÇÃO DA HONESTIDADE?
EVENTO EXCLUSIVO REUNIU LÍDERES EMPRESARIAIS DO VAREJO E DA INDÚSTRIA PARA DEBATER OS DESAFIOS DE OPERAR NEGÓCIOS EM UM MUNDO TRANSFORMADO E ORIENTADO PARA UM CONSUMIDOR CADA VEZ MAIS EXIGENTE
POR ROBERTO MEIR, DE VANCOUVER
A cidade portuária de Vancouver foi palco no mês de junho do Global Summit 2019. No evento, promovido pelo Consumer Goods Forum, cerca de 900 CEOs e executivos C‑Level do setor varejista e de bens de consumo se reuniram para discutir tendências e compartilhar as melhores práticas para superar os desafios mais urgentes da atualidade. “Em todo o mundo, as empresas do setor de consumo reconhecem os imperativos de se adaptar ao universo digital e responder aos desejos de consumidores que cobram cada vez mais honestidade e sustentabilidade das marcas”, disse Peter Freedman, diretor-gerente do Consumer Goods Forum. Na reunião global deste ano, ele destacou o papel que a colaboração tem na aceleração das transformações que estão acontecendo nos negócios. “Isso inclui tanto parcerias entre concorrentes tradicionais do setor como também empresas iniciantes e líderes de tecnologia de fora dele”, afirmou Freedman.
Entre os desafios enfrentados pelo varejo e pela indústria estão questões como sustentabilidade e transformação digital. Os executivos se mostraram otimistas, por exemplo, em relação ao potencial de novas tecnologias, como reciclagem, agricultura inteligente, monitoramento por satélite, inteligência artificial, robótica, análise de dados e computação em nuvem. Um exemplo disso é a Bold Metrics, empresa que desenvolveu uma tecnologia que prevê medidas corporais a partir do uso de machine learning. Segundo Daina Burnes, CEO da companhia, foram seis anos de estudos para criar um conjunto de algoritmos que fornecessem recomendações precisas sobre como melhorar o gerenciamento de inventário, identificar problemas de fabricação e reduzir em 20% o índice de troca.
DIGITAL COM SEGURANÇA
Melhorar as habilidades digitais, seus perfis de sustentabilidade, bem como a capacidade de engajar o público-alvo da Geração Z são outros desafios inerentes àqueles que querem sobreviver ao novo momento da indústria. Sarah Davis, presidente da Loblaw, maior varejista de alimentos do Canadá, anunciou um investimento de US$ 250 milhões nos próximos cinco anos em recapacitação digital, assim como o emprego de mil pessoas em funções digitais. Já o presidente e CEO da varejista belga-holandesa Ahold Delhaize, Frans Muller, destacou a importância do uso transparente e ético dos dados. “A confiança do consumidor é menos dependente da segurança alimentar e mais focada em ‘posso confiar em você como você lida com os meus dados’?”, disse. Outro destaque ficou por conta de Tina Lee, CEO da T&T Supermarkets. Considerado o maior supermercado asiático do Canadá, ele acabou construindo um relacionamento sólido com consumidores asiáticos e entusiastas dessa culinária. Para Tina, o segredo é se conectar ao cliente canadense de maneira autêntica. É o que ela chama de servir a “cultura do hashi”.
A GERAÇÃO HONESTA
Outro consenso foi a importância de estabelecer uma relação de confiança com os consumidores Millennials e da Gen Z, que este ano passam a representar 32% da população mundial. O CEO da Nestlé, Mark Schneider, destacou que enquanto o mantra nos anos 80 era fazer dinheiro, não importa qual era a sua verdade, hoje o lucro precisa estar associado ao propósito. Cofundadora da agência criativa Futerra, Solitaire Townsend destacou ainda a natureza mais exigente e cética dos consumidores da Geração Z em relação aos Millennials. A especialista os descreveu como a “geração honesta”, que exige provas do propósito de uma empresa.
A GERAÇÃO DA HONESTIDADE
Em uma pesquisa conduzida em parceria com a The Consumer Goods Forum, a Futerra revela as expectativas dos consumidores da Geração Z sobre transparência em questões sociais, de saúde, ambientais e de segurança. Feita com consumidores nos Estados Unidos, no Reino Unido, na Índia e na África do Sul, ela revela uma diferença significativa entre o que os Millennials (entre 23 e 38 anos) e os jovens da Geração Z (com 22 ou menos) acreditam sobre a honestidade das marcas e dos varejistas. Enquanto os primeiros, por exemplo, acham que 66% das marcas não são nunca honestas, 79% dos Zs têm a mesma opinião. O levantamento mostra ainda que enquanto 90% de ambas as gerações querem receber informações honestas sobre os produtos, apenas 42% dos Zs e 66% dos Millennials acham que isso é cumprido. “Os Millennials conduziram as marcas a se guiarem pelo propósito, mas a Geração Z está exigindo provas”, diz Solitaire Townsend, cofundadora da Futerra. Segundo ela, estamos diante da “geração honesta”, com “apetite radical por transparência”, principalmente no que diz respeito a questões sociais e ambientais. “Eles não esperam que as marcas sejam perfeitas, mas esperam que sejam verdadeiras. Aqueles CEOs com a coragem de serem abertos serão recompensados, mas as marcas que se escondem correm o risco de serem esquecidas”, decreta Townsend.