

Que venha o ano V!
Jornalista e um dos apresentadores do programa Manhattan Connection da GloboNews
Este 2020 da pandemia foi um annus horribilis. E como será 2021? A vacina está chegando e vamos torcer para que seja um ano menos horrível. No universo do consumidor, é melhor ficar vacinado. De um lado, o admirável mundo novo. De outro, mudanças penosas e fatais.
Um recente estudo da consultoria McKinsey destaca que três em quatro pessoas tentaram um novo método para fazer compras durante a pandemia e que mais da metade dos consumidores americanos planeja continuar a pegar o que comprou ali na calçada mesmo e não dentro do estabelecimento. O incremento da entrega em domicílio da compra no supermercado também foi espetacular. Nós vemos o triunfo do drive-thru.
Qualquer ensaio de normalidade em 2021 pode levar muitos a retomar velhos hábitos, mas a destruição criativa provocada pelo vírus, na verdade, acelerou a virada para o comércio eletrônico, e o estudo da McKinsey avalia que muitas mudanças de fato serão permanentes.
A pandemia comprimiu em três meses, no segundo trimestre, o que poderia levar dez anos para ser consumado. Muita coisa não tem volta. Basta ver um símbolo tão fragilizado do varejo americano: com a pandemia, o comércio eletrônico representa 43% das vendas da Macy’s, enquanto era 26% na era A.C. (antes do corona).
Diante das mudanças no comportamento do consumidor, a Macy’s vive em revolução permanente para atendê-lo. Fez parceria com o Google para incrementar sua ferramenta de busca e adicionou entrega no mesmo dia para pedidos online.
A Macy’s quer uma sobrevida em meio à quebradeira recordista no varejo tradicional americano. Nem preciso entrar em detalhes sobre restaurantes. Nesta indústria, tudo parece tenebroso para quem não sabe fazer a transição. Eu posso até desistir de uma poltrona no cinema, mas é bem mais difícil para mim viver sem uma produção na Broadway.
Eu acredito que veremos a retomada de muitas atividades comerciais, culturais e esportivas que exigem proximidade com outras pessoas. Tudo, é claro, vai depender dos hábitos, dos gostos e das necessidades de cada consumidor.
Eu me dei conta de que, muitas vezes, estou sem um tostão na carteira e faz sentido: afinal, 1/3 dos americanos, de acordo com um estudo do Banco Central, deixou de usar dinheiro para pagar na pandemia, usando apenas cartão. Mas, de novo, a pandemia apenas acelerou tendências.
Pessoas mais idosas são mais aferradas a velhos hábitos. Mas, agora que tantas aprenderam a fazer compra de supermercado online, para que voltar atrás? Estas formas de como as pessoas fazem as compras serão duradouras e vão cobrir gerações de consumidores.
E quero terminar falando da vacina, afinal 2021 será o ano V. A empreitada logística será um desafio fenomenal de atendimento ao cliente, ou seja, para boa parte da humanidade.