
A REPUTAÇÃO
FALA MAIS ALTO
POR ROBERTO MEIR
Um dos piores efeitos da crise brasileira foi a assombrosa crise de reputação que se abateu sobre gigantes do nosso mercado. Começando pela Petrobras, passando por um pool de companhias responsáveis pela maior parte das obras públicas e de infraestrutura, vimos aturdidos como políticos e executivos se locupletaram para viciar processos de licitação e contratos com objetivos escusos. Tivemos uma excêntrica política de “campeões nacionais”, empresas infladas artificialmente, por meio de crédito oficial, com supostos sonhos de grandeza que previam a conquista de mercados globais e que, via de regra, trouxeram apenas prejuízos oceânicos e escândalos solares.
Em que ponto de nossa história demos as costas para a importância da reputação corporativa construída em bases sólidas, a partir de estratégias consistentes de proteção de valor? Em que momento abrimos mão da compreensão de que a competição precisa ser disputada em bases justas, nas quais prevaleça o mérito, a força inovadora, a busca incessante pela satisfação do cliente?
No mundo inteiro, as grandes corporações são alvo de críticas e do bombardeio histérico originado nas redes sociais. Acionistas contestam posicionamentos mais conscientes, analistas criticam a visão estreita e de curto prazo dos acionistas, consumidores veem empresas tradicionais com ceticismo, o cinismo é latente. Não por acaso, a própria ideia de democracia também vem sendo combatida e questionada globalmente pela descrença generalizada das classes médias em relação à sinceridade dos políticos e à falta de sintonia da política e dos partidos com suas demandas e necessidades.
A agenda de transformação social, tão relevante, que procura defender minorias e propagar a igualdade generalizada entre gêneros, etnias e classes, tornou-se menor diante da ansiedade provocada pela insegurança, a estridência do politicamente correto e a desigualdade. Por um momento, todas as pautas parecem secundárias diante da inquietude generalizada, provocada pela desconexão entre instituições e cidadãos.
Exatamente por isso a reputação é o ativo intangível mais decisivo para a vida das empresas em geral. Definir exatamente como manter e evocar esse ativo é um desafio essencial para todos os gestores. Este ano, retomamos uma visão mais detalhada do Reputation Index, estudo da DOM Strategy Partners que nos traz o ranking geral e por segmentos da reputação corporativa. Uma visão consistente e reveladora dos vetores que compõem a equação de Imagem x Credibilidade, quadrantes que formam o estudo e asseguram sua consistência. Entender como nossas empresas estão construindo, entendendo e cultivando a própria reputação traz lições importantes para desconstruirmos o apelo do conflito e do litígio. É imprescindível defender a ideia de que empresas e consumidores são duas faces da mesma moeda, os elementos indistinguíveis das relações de consumo, que impulsionam o mercado e a sociedade para o progresso e o crescimento.
Verificar como empresas reagem a crises, como se predispõem a dialogar com seus clientes, a tomar posições, a adotar posturas mais transparentes e a cultivar comunidades traz exemplos fundamentais para restaurar a confiança e a credibilidade dos cidadãos nas instituições e na democracia. O cerne dessa discussão está justamente na identidade de valores, os mesmos valores que estimularam a maior parte da população a mostrar, conforme mostram os resultados do primeiro turno das eleições, de modo contundente, o que espera de nosso País de agora em diante. Ainda mais diante do inconformismo latente do pós-consumidor, tendência que lançamos no último CONAREC e que acompanhamos diuturnamente.
A reputação fala mais alto quando se fala na necessidade de termos todos no que acreditar. Queremos sim que existam modelos, lideranças, marcas, empresas que nos sirvam de referência, que possamos admirar, exaltar e aplaudir. Quando uma empresa coloca a reputação em segundo plano está dizendo que sua credibilidade é elemento coadjuvante de sua estratégia.
Quanto mais empresas admiráveis tivermos, aquelas genuinamente construídas por meio de valores, inovação, trabalho sério e transparência, melhor será o nosso País, nosso ambiente de negócios e, por extensão, mais promissor será o nosso futuro e o nosso mercado. Defender cuidadosamente a reputação corporativa é o primeiro passo. E, como diz o ditado, uma caminhada de mil quilômetros começa sempre com o primeiro passo.
“Quando uma empresa coloca a reputação em segundo plano está dizendo que sua credibilidade é elemento coadjuvante de sua estratégia”
