Paula Paschoal, diretora-geral do PayPal:
foco em uma população sedenta por soluções
REVOLUÇÃO PELA INCLUSÃO
PayPal reuniu grupo em Nova York para compartilhar sua visão global, tendências e inovações em serviços financeiros
POR ROBERTO MEIR, DE NOVA YORK*
Com 277 milhões de correntistas ativos, o PayPal tem uma missão bem clara: democratizar serviços financeiros para bilhões de pessoas. Parece ousado, mas o compromisso da empresa com a população sem acesso a serviços bancários e a relevância da América Latina no processo de inclusão de consumidores e comerciantes vêm tornando esse objetivo cada vez mais tangível. “Vamos ver uma explosão de dispositivos conectados. Aparelhos móveis e smartphones estão ficando mais poderosos, menores e mais baratos. Uma conexão menos dispendiosa com a internet nos permitirá impulsionar a inclusão e a saúde financeira de uma forma que nunca aconteceu antes”, disse Dan Schulman, CEO do PayPal.
Ele tem razão. A prévia de uma pesquisa do IDC em parceria com o PayPal mostra que, na América Latina, os brasileiros são os que mais utilizam smartphones para realizar atividades financeiras (24,3%), contra 14% no México e 11,4% na Colômbia. “Os brasileiros são altamente conectados e isso tende a popularizar o uso de carteiras digitais”, analisa Paula Paschoal, diretora-geral do PayPal no Brasil.
A pesquisa do IDC reforça esse exemplo. Ao todo, 60% dos brasileiros usam meios digitais para pagamentos. A adesão dos brasileiros às fintechs é também superior à registrada em países como México e Colômbia. “O crescimento do ecossistema de fintech está criando soluções que permitem transações mais rápidas, convenientes”, afirmou Ricardo Villate, presidente do IDC para a América Latina. Sri Shivananda, CTO do PayPal, concorda. Para ele, o futuro será ainda mais promissor com o avanço do 5G, o desenvolvimento de baterias mais duráveis e modelos de machine learning mais sofisticados.
O único tropeço do PayPal pode ser a parceria com o Facebook, que em junho detalhou seus planos para lançar uma criptomoeda. Empresas como Uber, Visa, PayPal e Mercado Livre investiram US$ 10 milhões cada uma para fazer parte da Libra Association, uma organização sem fins lucrativos responsável pela moeda virtual. Como praticar compliance tendo o Facebook como parceiro? A resposta é tão clara que nem precisa de cara ou coroa!
*Roberto Meir viajou aconvite do PayPal
“O BRASIL É O NOSSO PAÍS DO FUTURO”
Há quatro anos no comando do PayPal no Brasil, Paula Paschoal fala com entusiasmo sobre o crescimento da empresa, o futuro dos meios de pagamento e os desafios da liderança
POR GABRIELLA SANDOVAL
Formada em administração de empresas, Paula Paschoal trabalha no PayPal – uma spin-off do eBay – desde que ela começou a operar no Brasil, em 2010. Em 2017, pouco tempo depois de voltar de licença-maternidade, foi promovida ao cargo máximo de diretora-geral da companhia. A responsabilidade é grande. Com mais de 4 milhões de contas ativas, o Brasil é o maior mercado do PayPal na América Latina. Aos 37 anos, a executiva diz que tem “uma rotina de pessoa louca”. Acorda cedo, aproveita o horário do almoço para se exercitar e, à noite, depois de colocar as filhas, de 2 e 4 anos para dormir, se prepara para mais um round de trabalho. Por conta do fuso horário, videoconferências às 21h30 com as equipes de Cingapura, hub internacional do PayPal, e Califórnia, sede mundial da empresa, são comuns. A rotina é árdua, mas a gratificação, garante, é muito maior. Do escritório do PayPal, em São Paulo, Paula conversou com a Consumidor Moderno:
CONSUMIDOR MODERNO – UMA PESQUISA DO IDC EM PARCERIA COM O PAYPAL MOSTRA QUE 61% DOS BRASILEIROS JÁ FAZ USO DE CARTEIRAS DIGITAIS, QUE DISPENSAM O USO DO CARTÃO FÍSICO. ISSO ABRE OPORTUNIDADES DE NEGÓCIO?
Paula Paschoal – Sem dúvida. O crescimento do uso de carteiras digitais vai impulsionar a economia. Estamos diante de uma quebra de paradigmas e da desmistificação das compras digitais. Destaco, ainda, o tamanho da oportunidade considerando o número de desbancarizados no Brasil (45 milhões) e o fato de o País ter superado a marca de um smartphone por habitante. Existe uma população enorme e sedenta por novas soluções.
CM – ISSO TORNA O CENÁRIO POSITIVO PARA O PAYPAL NO BRASIL?
PP – Além de ser um dos países mais estratégicos do mundo, o Brasil é classificado como um dos rapidly emerging markets com China, Índia, Japão e México. A nossa expectativa para os próximos anos é não só continuar com o ritmo de crescimento que a gente vem tendo, mas acelerar através de parcerias estratégias como a anunciada com o Itaú (desde o ano passado, o banco permite a vinculação de cartões de crédito emitidos por ele à conta do PayPal). O que posso dizer é que o Brasil é o nosso País do futuro, principalmente pela sofisticação do nosso sistema bancário, extremamente evoluído.
CM – QUEM É O CLIENTE DO PAYPAL?
PP – PP – Tenho o cliente comprador, que compra dentro e fora do Brasil e que está concentrado no Sudeste e tem idade entre 35 e 45 anos, e o vendedor. Hoje temos mais de 300.000 vendedores que usam o PayPal. E eles vão desde os grandes varejos e companhias aéreas ao pequeno empreendedor, que vende bolo de pote.
CM – COMO VOCÊS ENXERGAM A INOVAÇÃO NO BRASIL?
PP – Os constantes investimentos em startups por aqui mostram que temos encontrado modelos de negócio inovadores. O Rappi, por exemplo, resolveu um problema, assim como o Nubank e sua maneira simplificada de se comunicar com o consumidor. O Brasil tem vivido um momento positivo.
CM – A APROXIMAÇÃO COM STARTUPS É UMA DAS FORMAS DE INOVAR?
PP – As aquisições sempre estiveram no DNA do PayPal. O que mudou é que temos feito aquisições com presença na América Latina. As duas mais recentes com operações locais são a Simility, empresa de gestão de fraude, e a iZettle, empresa de mPOS (pagamentos com cartão utilizando o celular como terminal). A nossa pergunta é sempre a seguinte: vai nos aportar valor? Eu demoraria mais tempo para fazer? A resposta, muitas vezes, é sim. É melhor comprar. Olhando para trás, temos importantes aquisições, como a Venmo, que é altamente lucrativa e focada nos Millennials. Ela tem um plano de expansão global e deve chegar ao Brasil em breve.
CM – QUAL SERÁ O FUTURO DOS MEIOS DE PAGAMENTO?
PP – Essa é a pergunta de US$ 1 milhão. É difícil prever o futuro na velocidade com que o mercado tem mudado. Mas dá para apostar no mobile, no blockchain e na inteligência artificial para entender o comportamento do consumidor, seja para regra de risco, seja para promoção ou comunicação.
CM – COMO É A PAULA LÍDER?
PP – Madura. E muito desse amadurecimento veio pelo fato de eu ter me tornado mãe. Sou uma gestora muito melhor. Olho para as pessoas com mais empatia e entendo melhor o tempo de cada um. A maioria das pessoas que trabalha comigo está há muitos anos aqui e esse desenvolvimento de quem está ao redor é muito importante. Sou muito brava, muito dura, e essa é uma característica minha, mas tento melhorar. O fato é que não estou aqui para ensinar, mas sim para trocar.